segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Família Nordestina






 Estão sentados no chão batido e seco, no casebre de um só cômodo. Raimundo Nonato e Maria das Graças, o casal, nomes santos; José, Bernadete e Fátima, os filhos, nomes santos. É a família no sertão do nada, da terra vazia, do rachado no chão, da fome e das lombrigas.
Do lado de fora há o sol nas grimpas e ondas de calor no chão; do lado de dentro não há água, há fome e sede, sim. Longe, bem longe, outro casebre, e mais uma família sofrida, e muitas moradias toscas e perdidas naquele deserto paradoxalmente próximo de tudo. Lá, porém, não há nada, nem vento, nem chuva, nem plantação; mas há cactos e calangos...

Não, não há mais calangos, a ave de rapina que surgiu do céu, azul, sem nuvens, levou no bico o único que Raimundo Nonato avistara e nele pensara para o almoço de cinco. Sobraram os cactos, agora cortados em pedaços e comidos ao natural, com todos sugando sua umidade. Como os cactos resistem a tudo? Sim, eles resistem à seca, e as famílias, teimosas como eles, resistem também. Contudo, muitos morrem, e são enterrados, e desaparecem sem registro. Nunca existiram a não ser naquele espaço longínquo e abandonado. Somem de um mundo que nem conheceram e as famílias diminuem...


 O sol, implacável, não se cansa de queimar o chão. Nada há além do pó inerte, nem vento que o levante provando que ali há vida. Não, não! Não há vida! Tudo está parado, menos a energia que brota do solo seco, irradiada de um nada para outro nada

É o deserto nordestino, paradoxalmente, bem perto do progresso e da abundância, bem perto do segundo maior rebanho bovino do mundo, bem perto da segunda maior plantação de soja do mundo, bem perto do Centro-Oeste...



O deserto nordestino está ainda próximo de outras paragens produtivas. Ah, bastava um pouquinho, só um pouquinho, e nenhum nordestino passaria fome, ou sede, nem sofreria de doença e morte precoce. Água é mais fácil, é só furar poços artesianos em vez de cavar o chão para esperar a chuva que não vem. Ou então canalizar a água pra lá, eis que perto da seca há o maior manancial de água doce do mundo. O que falta, então?...





Falta espírito humanitário!













sexta-feira, 30 de junho de 2017

ENIGMA EXISTENCIAL





Bastaria existir a Via Láctea no inexplicável Universo para caracterizar o absurdo da existência humana na Terra. Porque todos os conceitos existenciais esbarram nesta invencível constatação do absurdo, tal como é absurdo o suicídio no dizer de Albert Camus; sim, mesmo que tudo seja irrealidade, e que a existência humana não passe de ilusão, nós, mortais, supostamente pensantes, insistimos em distinguir o natural do sobrenatural, ignorando o primeiro por ser complexo e cultuando o segundo por imitação de rebanho. Olvidamos o natural também porque a ciência e a filosofia não ultrapassaram o limite do “só sei que nada sei”. Resta-nos, talvez, o sobrenatural como via de escape. Mas quando nos remetemos a ele em profundidade vemo-lo tão incrível quanto o natural. Alenta-nos, nesta hora de difícil opção, a Fé na existência de uma Entidade criadora do Universo, ou de Multiversos, tanto faz. Mas o absurdo insiste em nos atordoar, e nem sempre a Fé em Deus o supera. Sorte daquele cuja Fé é capaz de transpor todos os absurdos imagináveis e inimagináveis.

Tornando ao enigma de crer ou não crer (quiçá um dilema), imaginar que o Universo sempre existiu ou que teria nascido dum Nada, sem intervenção divina, não dirime a dúvida fundamental, e cá nos mantemos diante o absurdo. Mais enigmático ainda é conceber esse Nada anterior à criação do Universo e aceitar como verdade insofismável a existência de uma Entidade criadora fora desse Nada representado pela ausência de tempo, e espaço, e energia, e matéria e Tudo. Essa Entidade, claro, é nosso Deus ocidental, ou seriam as Entidades de outras denominações que sabemos imperar mundo afora.

Cada qual com sua Verdade!... Enfim, qualquer via de escape sobrenatural nos leva ao absurdo e nos trancafia no maior de todos os absurdos: nossa efêmera existência física por obra de Deus. Ah, não crer na Criação é absurdo! Por outro lado, crer na Criação é também absurdo! Enfim, só nos é dado crer no absurdo ou nos entregarmos a uma Fé tão convicta que dispensa absurdos. Sorte de quem a possui no seu espírito, se é que existe, e eu tendo a crer que sim, para sorte minha. Mas não excluo do meu pensamento o absurdo que permeia esta Verdade em mim, atordoando-me.

Pensar na existência humana a partir da Criação significa aceitar a racionalidade diferenciadora dos animais e dos vegetais e crer em Deus. Tal posicionamento me parece menos absurdo do que crer na Evolução a partir de um Big-Bang cuja teorização somente tem servido para afagar egos científicos muito além do entendimento do povo simples da Terra... Hum, que racionalidade é esta a que me refiro?... Será que é a que conduz este texto sem pé nem cabeça?...

Como saberemos, enfim, se realmente raciocinamos? Quantos movimentos repetitivos executamos enquanto supostamente raciocinamos? Por que há tanta semelhança biofísica entre humanos e animais? Como negar tantas outras similitudes orgânicas entre seres humanos e animais? Bem, a diferença estaria no exercício da razão, apenas, pois a emoção afeta também os animais, e cada qual a manifesta do seu modo repetitivo, que chamamos instinto e também o manifestamos muitas vezes. Sim, a emoção afeta o nosso corpo físico e psíquico, sim, e a repetição dessa emoção é comum aos humanos e aos animais. Ou seria mais um absurdo que aqui grafo em dúvida angustiante?...

Hoje a mecânica quântica absurdamente assegura que a pedra pensa. E agora? Que dizer disso? Será que os cientistas enlouqueceram? Não, não enlouqueceram, somos nada mais que átomos a transmigrarem de um para outro corpo mineral, vegetal ou animal ao longo de sua existência, seja efêmera ou eterna. Sim, para o átomo não há contagem de tempo, parece-me eterno. Aliás, tudo que existe apenas representa o que conceituamos em relação ao que sentimos ou não sentimos, bem como imaginamos que as demais coisas ou pessoas sentem ou não sentem. É tudo, afinal, clichê de comunicação repetitiva, tal como fazem os animais para se comunicar abrindo asas, balançando rabos, emitindo sons etc. É tudo átomo!...

Vivenciamos um mundo absurdo. Praticamos o absurdo desde o nascimento até a morte, com ressalva de que no prelúdio de nossas vidas comemos e borramos como quaisquer animais irracionais. Sim, somos instintivos na maior parte do tempo, este que aparentemente nos transforma em seres pensantes porque o delimitamos em convenção simplória (atavismos) sugerindo que tudo é imitação, e é como nos comportamos: imitando o outro até a morte. Claro que um médico pensa diferente dum engenheiro, se quisermos raciocinar com diferenças. Mas, fundamentalmente, são seres humanos forjados do modo de sempre no mundo animal (racional e irracional). Mas, se o animal não pensa em nada, também nós, humanos, evitamos pensar no absurdo de o nosso planetinha gravitar num sistema tão minúsculo em relação à Via Láctea que nem dá para imaginar que são bilhões de bilhões de Galáxias no Universo infinito. Ou finito?... Ah, quem somos nós?...

Com efeito, não há como não nos descambarmos ao espanto ante o absurdo. E talvez o maior de todos resida no fato de nos situarmos dentro de nós mesmos e nos deliciarmos com o que designamos subjetividade. Vemos coisas e pessoas e as distinguimos segundo nossa aparente vontade. Parece que é o que nos basta, até que miramos o céu distante e nos damos conta de nossa insignificante pequenez diante de nossa absurda existência, se é que existimos...

Bem, não posso negar certa angústia ante a vida e o mundo. Espanta-me o absurdo da ignorância em que vivemos. Não somos nada mais que hipóteses improváveis até materializarmos a hipótese extrema da inexistência: a morte. E mais ainda me espanta a arrogância, o extremismo fanático e a crueldade dos seres humanos, mesmo certos de que, humildes ou arrogantes, sensatos ou extremados, ricos ou pobres, tornar-se-ão pó de estrela tais como no início de tudo... Ou antes do início de tudo.


JULGAMENTO




“A versão brasileira da organização formal do sistema de júri é um bom exemplo de como uma instituição democrática popular e igualitária transformou-se pela cultura jurídica numa instituição autocrática, hierárquica e elitista.” (Roberto Kant de Lima)





O cenário do júri já montado, as personalidades em seus respectivos lugares: sete jurados, mui dignos representantes da formal sociedade, todos em tronos soberbos postados lateralmente ao juiz e ao promotor, estes, porém, entronizados no mais alto lugar do solene ambiente e ombreados em imponentes cadeiras, que, em estilo, remontam aos idos del-rei. Na outra lateral está o advogado de defesa, quase que rés do chão; e, por fim, o réu, figura central da solenidade, sentado em cadeira comum, no patamar mais baixo de todos, olhos cosidos no soalho, queixo colado ao peito, mãos entrelaçadas em meio às pernas, pulsos algemados, pés nus e calçados apenas com sandálias deformadas pelo uso.



É assim que fica o réu, isolado em sua cadeira, diante do juiz, ele bem cá embaixo e o juiz e o promotor bem lá em cima, como se fossem ambos quatro mãos segurando um só martelo em posição de bater num insignificante prego. O réu, para variar, negro, pobre, roto, esfaimado, nada mais que “prego social”.



Atrás, nas arquibancadas, vê-se a entusiástica plateia, como aquela dos tempos romanos das arenas e dos leões, plateia previamente credenciada e selecionada, todas as pessoas recrutadas por algumas prestigiadas ONGs em razão do limitado espaço a ser ocupado. Mais acima, no privilegiado camarote, repórteres voejam como aves de rapina sobre a presa. Pronto, estão todos superpostos e em posição de combate, com o réu reduzido a apenas um ponto negro e insignificante no centro da arena. É hora de começar o espetáculo! Que sejam soltos os leões! Ó respeitável público! Luzes, câmeras, ação!...



O JUIZ: – Qualificado o réu, Manoel Pedro da Silva, negro, sem profissão, endereço incerto e não sabido. Lida a denúncia, ouvida a única testemunha, feito o relatório, tudo conforme a magnânima lei, dê-se início ao julgamento do famigerado réu pela acusação de tentativa de homicídio. Com a palavra a insigne acusação.



O PROMOTOR: – Meritíssimo senhor doutor juiz, magnificentíssimos senhores jurados, lídimos representantes da sociedade, vox populi vox Dei!...



1º JURADO (pensando): “Que eloquência! Que frontispício! Que citação de abertura! A voz do povo é a voz de Deus! Eu sou a sociedade, eu sou a voz do povo, eu sou a voz de Deus! Que homenagem bem posta! Esse garboso jovem deve ser de importante família de juristas.”



O PROMOTOR: – Estamos aqui, longânimes senhores jurados, neste sagrado espaço da justiça, para vos sugerir a condenação deste contumaz criminoso como dever cívico de todos nós! Como lídimo representante do Estado e guardião das leis e da sociedade, peço-vos desde já a punição do réu à pena máxima pelo crime que ele cometeu, pois assim é que tout est bien quui finit bien...



2º JURADO (pensando): “Que capacidade de síntese! Que erudição! Saiu do latim para o francês como quem passa de uma sala para outra! Tudo o que termina bem, está bem! Que inferência! Este belo rapaz deve ter estudado na Sorbone.”



O PROMOTOR: – Magnificentíssimos senhores jurados, o Estado tem a certeza de que o réu é culpado. A vítima, uma nobre e indefesa senhora de oitenta anos, não teve qualquer dúvida em identificá-lo. É certo que a defesa apelará para a falsa ideia de que a vítima usa óculos de grau, que era noite fechada, que esquecera seus óculos em casa, entre outras falácias e sofismas. Não acrediteis! Uma pessoa tão lúcida, tão inteligente, e de tão boa estirpe, como esta senhora, vítima, nunca se enganaria ou se prestaria a ser imprecisa. Também é certo que a defesa de Manoel Pedro da Silva apelará para a alegação de erro de pessoa, como já insinuou no processo. Apelará, é certo, para o in dubio pro reo... Ah, mero sofisma! Pois certo é que in dubio pro societas... Por isso, não acrediteis nas lucubrações da defesa! Nós somos o Estado e a Sociedade unidos contra o mal que nos assola! Tenhamos, pois, o máximo de cautela contra esses argumentos de falsas dúvidas em favor do réu, que certamente virão...



3º JURADO (mulher nova – pensando): “Que elegância! Que terno alinhado! Que pão! Que bonitinho! Que cabelo bem arrumado! Será que ele tem namorada?”



O PROMOTOR (alçando catedraticamente a mão esquerda, e assim brilhando seu belíssimo anel de grau, presente do pai na formatura): ― Como vos estou a dizer, nobilíssimos jurados, a verdade, somente a verdade estamos aqui expondo. E ela é somente uma: o réu é culpado e deve ser condenado! Não vos digo isto apenas em razão de gratia argumentandi, mas por certeza de sua culpabilidade. Credes, veneráveis membros da sociedade, horribile dictu é que o réu é o indiscutível autor do crime. Mas o dever do Estado é o de punir os criminosos, sine ira et studio. Assim o faço desde que iniciei minha brilhante carreira, vitam impendere vero...



4º JURADO (pensando): “Que irresistível intelectualidade! Que discurso! Que citações! Horrível de dizer, mas sem cólera, nem favor! Isto é que é consagrar a vida à verdade! Quem me dera ele fosse meu filho!”



O PROMOTOR: – E mais vos digo, excelentíssimos senhores jurados. A prova testemunhal, trazida pela ilustre vítima, e a firmeza desta não menos eminente testemunha em identificar o réu como o criminoso, não permitirão à defesa a sofística argüição do to be or not to be: that is the question.



5º JURADO (Mulher velha – pensando): “Que maravilhoso! Ser ou não ser, eis a questão! Que lindo! Que menino bem apessoado! Quem dera que eu fosse a sua mãe! Que orgulho ela deve ter desse filho!”



O PROMOTOR: – Vejais bem, veneráveis jurados. Que o criminoso atentou contra a vida da nobilíssima senhora vítima, não há dúvida! Mas a defesa vem alegando que ele não foi ele, que seria impossível sua identificação por parte da vítima, que negros no escuro se confundem... Assim, deste modo grosseiro, tenta a defesa, sem outro argumento mais consistente, desculpar o réu. E, pior, o réu não quer confessar que atentou contra a vítima e muito menos quem o mandou executar a terrível empreitada criminosa... Pois é certo que o homicídio foi encomendado. Também tentará a defesa, como já vem tentando, desmoralizar o testemunho do ilustríssimo doutor que acompanhava a vítima no momento do atentado, sob a singela alegação de que tão nobilíssimo cidadão não poderia identificar o criminoso, com a precisão que o fez, por não enxergar bem. Sim, venerabilíssimos jurados, apelará a defesa para o testis unus, testis nullus. Mas estamos atentos a isso, e espero que os senhores e senhoras também o atenteis.



6º JURADO (pensando): “Que rapaz ex professo! Este conhece a fundo a questão! Que capacidade de antecipação! É lógico que o testemunho é único, mas pesado a ouro de sapiência e de credibilidade... E que posturas e modos de se nos dirigir a palavra! Se me fosse permitido, eu o aplaudiria entusiástico e de pé!”



O PROMOTOR: – Sim, magnificentíssimos senhores jurados. Culmino a minha acusação com a convicção de que o criminoso daqui não sairá impune. Estamos diante de um caso que nos permite declinar a máxima et crimine ab uno disce omnes. Por esse crime particular, pode-se imaginar que em outros crimes esse réu ainda poderá cometer! Deixamos claro o quis, quid, ubi quibus auxillis, cur, quomodo, quando. Não há mais que fazer, a não ser aguardar, sereno, que o réu receba o castigo que merece, em respeito à ilustre vítima, ao Estado e à Sociedade, esta que aqui está tão bem representada pelos nobilíssimos senhores jurados, eis que vox populi vox Dei.



7º JURADO (pensando): “Que espetáculo à parte a acusação! Que citação probatória apropriada: quem, quê, onde, por que meios, por que, como e quando... Duvido que o reles advogado tenha entendido tão solene latinização... E muito menos o réu... Duvido que o pobre-diabo do advogado de defesa do réu, aqui e hoje, consiga alguma coisa! E que elegância do promotor ao apontar o réu! Que gesto magnânimo! Se ele nada falasse... Só apontar o réu como culpado, da forma como o fez, para mim seria suficiente.”



O JUIZ (cumprimentando efusivamente o promotor, agora retornando ao seu assento, ao lado do juiz, lá no alto): – Que a defesa ocupe a tribuna e inicie a sua parte!



O ADVOGADO: – Senhores jurados, serei breve. Estamos aqui para julgar um réu injustamente acusado. Quem está qualificado nos autos é Manoel Pedro da Silva, que na data dos fatos teria atentado contra a vida da vítima. Quero-lhes acrescentar apenas dois argumentos, simples argumentos, bem simples mesmo: o réu que aqui está sendo julgado não é Manoel Pedro da Silva. Seu nome verdadeiro, de registro oficial, em cartório, é Pedro Manoel da Silva. Também as digitais constantes na ficha referente a Manoel Pedro da Silva não conferem com as do réu. Em resumo: um não é o outro! E, para encerrar, juntei no processo a prova de que o réu estava na Bahia na data dos fatos. Portanto não poderia, nunca, estar aqui no Rio, e muito menos atentar contra a vida de ninguém! É só o que lhes tenho a dizer, além de discordar de tudo aquilo que o promotor eloquentemente salientou, que não corresponde à verdade dos autos e nem à realidade dos fatos. E lhes reafirmo: o réu é negro, e não poderia ser reconhecido à noite e no mais completo breu por duas pessoas idosas e que sabidamente enxergam mal. Mas nem precisava apelar para estes argumentos para defender o réu. Pois é certo que o criminoso não é ele!...



OS SETE JURADOS (pensando em uníssono): “Que coitadinho! Que malsucedido na profissão! Com essa roupa puída e deselegante, – e com esse discurso sem vida e despido de intelectualidade, – que pretende esse advogado aqui? Isto é até uma afronta ao meu juiz e ao meu promotor! E que relógio incompatível! Como esse advogado teve a petulância de vir para cá com esse relógio de borracha no pulso? Que cabelo malcuidado! E nem barba fez! Será que tomou banho, pelo menos? Ah, que mau gosto!”



O JUIZ (sem dar a mínima para o advogado): – Que os senhores jurados se retirem à sala secreta, para a votação!



(Pausa de meia hora, retorno dos jurados)



O JUIZ: – Por decisão unânime dos soberanos jurados, o réu foi considerado culpado! Farei a leitura da sentença reprovadora de sua conduta criminosa. Ele deverá ser recolhido à cadeia pública.



Feita a leitura, recolhido o atônito réu, enquanto o promotor dá entrevista à imprensa, sorrindo, vitorioso. Os jurados discretamente se retiram para suas residências, na Zona Sul, com a certeza do dever cumprido. Fecham-se os panos do cenário de mais um inocente, – negro, pobre e sem nome, – na cadeia, como nos velhos tempos... Abrem-se os panos dias depois, ao segundo ato. E nele surge um corpo caído ao chão, inanimado, o sangue escorrendo em torno dele. É a distinta senhora que acaba de ser assassinada pelo verdadeiro criminoso, este que veio consertar a falha anterior...


Família Nordestina

  Estão sentados no chão batido e seco, no casebre de um só cômodo. Raimundo Nonato e Maria das Graças, o casal, nomes sant...