domingo, 30 de abril de 2017

AVENTURAS DO DETETIVE PELEJÃO II – SEQUESTRO




Eram nove horas da manhã de uma segunda-feira, em setembro de 1997, quando Pelejão e Clarimunda adentraram o modesto escritório situado na Avenida Rio Banco, no Centro do Rio de Janeiro. Como de hábito, Clarimunda foi direto à secretária eletrônica recolher as mensagens do fim de semana. Deste modo se iniciava a rotina do casal de investigadores particulares, que durante muito tempo incluiu árduos treinamentos de Clarimunda patrocinados por seu marido, quase que reeditando o famoso “casal vinte” norte-americano, porém com brutal diferença entre suas respectivas contas bancárias: enquanto o de lá nadava em dólares, o seu similar daqui afogava-se em dívidas.

Os tempos estavam ruins: a principal especialidade de Pelejão – investigação de adultério – havia saído de moda. A infidelidade sucumbira-se no lugar-comum da aceitação geral. Em consequência, houvera a falência de Pelejão, que até pensava vender carnê fartura, plano de saúde e similares para sobreviver. Contudo, sua vocação de detetive sempre lhe batia mais forte no peito, e ele resistia estimulado pela entusiasmada esposa, mui também preparada para investigar. No fim de contas, investigação não passa de técnica que, inclusive, é exercitada até nos lares para flagrar filhos surrupiando trocados de algibeiras paternas ou maternas. A diferença entre a investigação profissional e a doméstica, aí sim, se estabelece pelo grau de conhecimento dos mais variados métodos investigativos. No caso de nossa dupla, estamos diante de dois excelentes profissionais, porém em momento de graves dificuldades pecuniárias.

Nesse clima de desalento, Clarimunda ouviu a providencial mensagem gravada na secretária eletrônica: uma pessoa que se identificava como Péricles, de Niterói, dirigia-se a Pelejão solicitando contato urgentíssimo, deixando os telefones registrados. O detetive deu um salto quando Clarimunda o chamou para ouvir a mensagem. A voz do interlocutor indicava certo desespero. Pelejão, depois de esclarecer a Clarimunda que se tratava dum velho amigo de infância, tratou de ligar para o primeiro dos números deixados.

Péricles era bem-sucedido empresário do ramo imobiliário, proprietário da maior corretora de imóveis de Niterói, com inúmeras filiais espalhadas por todo o território pátrio. Muitíssimo rico, tinha especial carinho por Pelejão desde os tempos em que ambos estudaram o ginasial. Depois, cada qual seguiu o seu rumo, Pelejão ingressando na Polícia Civil e Péricles indo trabalhar como corretor.

Tanto como Pelejão, Péricles era vocacionado para a profissão que escolhera. E não tardou em fazer fortuna, eis que ninguém o superava nos negócios que intermediava. Ganhou tanto dinheiro que pôde montar sua própria imobiliária, não mais parando de crescer e enricar, enquanto Pelejão se aventurava na atividade de detetive particular, algo que lhe assegurava o direito de, pelo menos, não pagar aluguel. Sim, pois ele conseguira comprar um apartamento no subúrbio do Rio, onde morava e permaneceu morando após juntar sua vida à de Clarimunda, bela baiana que lhe tomara de assalto o coração a partir de estupenda transa. O amor veio depois, tão forte como a paixão que lhe dera início, como se assim fossem ambos Romeu e Julieta. Mas o dinheiro começara a escassear...

É bom que se diga, todavia, que Pelejão recebia um misérrimo salário de tira aposentado, mas dava para pagar o condomínio e outras pequeníssimas contas, além de garantir a alimentação do casal. De resto, já começava a faltar dinheiro para o sustento da estrutura profissional. A súbita aparição de Péricles, e seu nervosismo ao deixar o recado, indicavam serviço à vista. E não era outra coisa:

– Alô, Péricles falando...

– Alô, amigo, é Pelejão...

– Olá amigo, quanto tempo!... Preciso me encontrar com você, se possível ainda hoje! – sugeriu nervosamente o corretor.

– Você manda! Estou na Avenida Rio Branco, no Edifício Central. Mas posso correr até Niterói...

– Não, amigo! Prefiro ir até você.

– Bem, se é assim então venha...

– Já estou indo!...

– Tudo bem. Aqui a gente conversa mais à vontade.

Na hora marcada, Péricles já apertava a campainha do escritório de Pelejão, este que o observava pelo visor plantado do lado de fora. E curtiu deixá-lo esperar um pouquinho, apenas para poder fitar aquela figura que não via há tempos. Os sinais de fortuna afloravam em Péricles: roupa finamente rematada e um relógio de ouro no pulso, sem dúvida um Rolex, com a pulseira de ouro tremeluzindo como desnecessário suplemento ao relógio; enfim, em poucos minutos Pelejão estaria diante de quem concretamente vencera na vida. “Pô, sempre tirei melhores notas que ele no colégio...”, pensava Pelejão corroendo uma ponta de inveja. “É, mas não posso reclamar. Escolhi esta profissão e ele optou por vender imóvel. Se eu fosse fazer o que ele faz, morreria de fome...”, continuava Pelejão a cogitar enquanto abria a porta:

– Olá, amigo! Quanto tempo!... Tenho acompanhado seu sucesso na polícia. Inclusive fiquei muito preocupado quando soube que você foi baleado... – mentiu Péricles em agrado ao velho colega de banco escolar.

– Obrigado, Péricles! Também tenho acompanhado suas andanças empresariais. Só vejo anúncio seu nos classificados. Sei que você está muito bem. Muitos colegas nossos, com os quais me encontro esporadicamente, também me informam que você é um dos grandes do ramo imobiliário. Meus parabéns! – exagerou Pelejão, seguindo a mesma tática do outro que não via há anos e que dele nem mais se lembrava. – Pelo visto, você me traz algum problema. Se for da minha alçada, conte comigo!...

– Bem, amigo, não sei se você terá condições de me ajudar, mas foi o desespero que me trouxe aqui. Já não creio na polícia, que vem tratando sem sucesso dum grave problema que afeta a minha família. Um filho adolescente de um primo meu está sequestrado faz um mês. Não há qualquer sinal dos sequestradores. Eles fizeram dois contatos nos primeiros dias e não mais se comunicaram com a família. A PM já prendeu dois suspeitos, um sargento e um soldado, que meu primo reconheceu...

– Mas, como ele pôde reconhecer? Explique isto melhor! – interrompeu Pelejão.

– Bem, o sequestro ocorreu em Friburgo. A família estava na fazenda quando foi surpreendida pelos sequestradores. Três deles vieram pelo meio do mato e alcançaram a casa, enquanto os outros rendiam os empregados. Tudo feito como se fosse um grupo de comando militar. Eles não estavam com os rostos cobertos. Apenas usavam toucas “ninja” nas cabeças, mas não as colocaram cobrindo os rostos; e mesmo com todos na penumbra, porque não eles permitiram que acendessem as luzes, meu primo pôde manjar dois deles, que posteriormente reconheceu.

– Mas como reconheceu?...

– Bem, primeiro ele ajudou na elaboração dos retratos falados. Depois, um oficial da PM que comandava o policiamento lá na região, e que tinha contato amiúde com o primo, achou que os retratos falados coincidiam com as fisionomias do tal sargento e de um soldado. Então o oficial levou meu primo até o quartel onde ambos serviam e, em lá chegando, e avistando os suspeitos, ele não teve qualquer dúvida em apontá-los como culpados. Foram presos na hora e estão presos até hoje. Contudo, depois deste episódio, não mais houve qualquer ligação ou recado dos sequestradores. A Polícia Civil não acredita que o graduado e o soldado tenham participado do sequestro. Há uma briga danada entre os policiais civis da DAS e os investigadores da PM. E, no meio dessa briga, estão meu primo e seus familiares desesperados. Por isso me lembrei de você, que com sua experiência nos poderia ajudar...

– É, talvez possa, mas pelo visto o caldeirão está muito remexido. Tem muito cacique pra pouco índio nessa história. Diga-me uma coisa, sinceramente, esse primo seu é rico, famoso ou coisa que o valha?

– Sem dúvida! É pessoa importante, conhecida e rica...

– Um sequestrável em potencial – atalhou Pelejão. – Ele exerce que profissão? – completou.

– É arquiteto, já projetou residências de pessoas importantes e vive figurando nas colunas sociais...

– Hum... E reconheceu os PMs como sequestradores... Veja só, Péricles, há uma coisa que não combina, e eu vou torcer pra ter razão: seu primo tem o perfil ideal para ser alvo do CV. É estranho que de súbito tenha um filho sequestrado por PMs. Acho que ele reconheceu as pessoas erradas, – o que nos daria chance de retomar o assunto, pois prevaleceria meu raciocínio de que o garoto foi sequestrado pelo CV, – ou então ele acertou no reconhecimento, o que lhe será trágico...

– Trágico?... Explique-me melhor! Não entendi muito bem – retrucou Péricles.

– Simples, amigo. Se os tais PMs foram presos, os cúmplices deles devem ser também PMs, e por esta hora já desapareceram com os vestígios do sequestro, ou seja, com o corpo do jovem. A prevalecer esta hipótese, em minha opinião estamos diante de um caso perdido. Mas, se eu estiver certo, teremos o garoto de volta. Quando é que conversaremos com seu primo?

– Agora. Ele nos está aguardando aqui perto, em seu escritório. Podemos ir até lá?

– Claro!

Foram ambos ao pai do rapaz. Em lá chegando, encontraram um homem alquebrado, nervoso, porém arrogantemente convicto de que reconhecera os PMs sem qualquer margem de erro.

– Meu senhor, diga-me uma coisa, o que lhe dá tanta certeza de que o senhor não se enganou no reconhecimento?... Indago assim porque já vi muitos erros devido à emoção da vítima. Ademais, segundo Péricles me informou, o ambiente estava na penumbra... – sugeriu Pelejão ao iniciar a conversa.

– Ora, rapaz! Sou um arquiteto afeito a minúcias por vício profissional. Como é que eu não os observaria com precisão? É impossível que eu tenha errado. Aqueles dois participaram do sequestro, com certeza! – retorquiu arrogantemente o arquiteto, deixando Pelejão aborrecido.

– Senhor, vou lhe falar muito claro também! Não entendo nadinha de arquitetura, mas de investigação criminal eu entendo muito bem, modéstia à parte! A mesma infalível experiência que o senhor afirma ter, para mim somente vale se o senhor estiver construindo uma ponte... Mas em matéria de investigação criminal o senhor não passa de mais uma desesperada vítima por fora de tudo. E lhe digo mais: torça para que esteja errado, pois, se os PMs que o senhor reconheceu são realmente culpados, por esta hora seu filho está morto! – exclamou Pelejão já irritado.

Foi bastante para desmontar o arquiteto, que caiu na realidade e passou a dar atenção aos argumentos de Pelejão, este que prometeu investigar o caso sem acirrar ainda mais a briga entre policiais civis e militares, com os primeiros acusando os segundos de incompetentes e afeitos a estranhos métodos de “investigação espiritual” e loucuras do gênero, o que muito acontecia na época por conta de um oficial PM insano e afeito a crer que poderia identificar um criminoso indagando de um copo d’água...

Pelejão saiu da reunião com a cabeça girando a mil por hora. Mas sabia por onde e como começar. Com experiência, e de posse de muitas informações sobre a criminalidade, – pois nunca deixara de contatar seus companheiros policiais civis e militares, com os quais mantinha útil intercâmbio, – Pelejão decidiu começar sua investigação visitando os PMs presos.

Foi, conversou longamente com o sargento e o soldado, concluindo, para seu alívio, que ambos eram absolutamente inocentes. Foram apenas vítimas do açodamento de um oficial que os confundira com os retratos falados sem considerar que isto é habitual ocorrer, especialmente quando os traços característicos de suspeitos retratados são comuns a muita gente. Pelejão tinha certeza de que o tal oficial e o arquiteto foram traídos pela circunstância de dois retratos falados apenas genericamente indicando as fisionomias dos suspeitos, havendo a possibilidade de se encontrar, em qualquer lugar, pessoas semelhantes aos desenhos. E não houvera outra coisa senão um terrível engano...

Com esta certeza na mente, Pelejão partiu ao encontro de seus amigos da DAS, e não lhe foi difícil saber que, como ele de antemão vislumbrara, os sequestros eram praticados por membros do CV, tendo como foco de mando os presídios de segurança máxima e os chefões que lá cumpriam pena. Também não lhe foi difícil saber de onde eram os bandidos: a favela Monsenhor Universal...

Pelejão começou a traçar o roteiro do sequestro a partir dos sequestradores, também por saber que dificilmente outros bandidos partiriam para esse tipo de ação a não ser policiais desviados. A regra geral, porém, era a de sempre, e tinha nome certo: CV.

Com a mente já ajustada à realidade, Pelejão partiu ao quartel da PM situado na área onde se localizava a favela, com o fim de se entender com alguns oficiais e soldados amigos. Não lhe foi difícil confirmar que os sequestros eram comandados de presídio de segurança máxima e por famigerado bandido conhecido como Robinho Fantasma, alcunha que surgira por ter ele tatuada no peito uma caveira enorme, além de duas caveirinhas em cada braço.

Outra informação importante recolhida por Pelejão dava conta de que os bandidos da favela Monsenhor Universal cuidavam somente da parte operacional do sequestro, logo entregando o sequestrado a outro grupo para guardá-lo em cativeiro enquanto negociava com a família. Tudo, claro, orquestrado pelos chefões presos. E em meio ao importante manancial de dados que recolheu veio-lhe uma surpreendente revelação: havia em outro quartel um PM que namorava a irmã de Robinho Fantasma, e que era ligado a um PM amigo Pelejão. Daí ao encontro foi um pulo.

– Meu amigo, há uma situação muito grave envolvendo o irmão de sua namorada. Sei que você é firmeza, que conheceu a moça por acaso, sem saber mais detalhes a respeito da família dela. Mas acontece que tenho certeza de que foi o irmão dela quem tramou o sequestro do meu primo – mentiu Pelejão ao se dizer parente. – Sei que você nada tem a ver com isso, e muito menos a irmã de Robinho Fantasma, mas preciso da sua ajuda pra lhe mandar um recado. Os sequestradores estão exigindo cinco milhões de dólares pra devolver o menino. É impossível, mas se fizerem um preço razoável a família paga o resgate. Há condição de você ajudar?

– Olha aqui, irmão: você chegou muito bem recomendado! Fique sabendo que não tenho trato com esse bandido. Quando conheci a irmã dele eu nunca poderia sonhar com a coincidência. Quando ela soube que eu era PM quis até terminar o namoro. Ela gosta do irmão e ele não sabe que ela namora PM. Nem sei se vamos continuar juntos... Por isso, posso mandar um recado pro Robinho Fantasma. Quero que ele se dane! Não gosto de bandidos!...

– Com certeza! Quero-lhe agradecer pela disposição em ajudar. Saiba que isto é segredo entre nós. Só preciso que Robinho Fantasma reveja o valor do resgate e saiba que vento que venta pra cá, venta pra lá... Importante é que ele saiba que está com alguém de minha família, mas que eu também cheguei perto da família dele... Preciso que ele saiba que sei perder, mas que ele também poderá perder feio... É parada de homem!... Quero o menino de volta, mas por um preço que possa ser pago. Assim terminará tudo bem. Há trinta dias os sequestradores estão quietos. Acho que foi por causa das prisões dos PMs e do excesso de divulgação. Mas isto já passou...

– Pode deixar. Vou agir ainda hoje. Mas o encontro da garota com o mano dela só vai acontecer no domingo. Antes disso é impossível. Mas creio que tudo vai clarear...

Pelejão ficou organizando os dados e as ações que desencadeara. Naqueles dias, não parou de articular contatos, sempre em sigilo e sem comprometer as investigações em curso. Na verdade, duas: a da Polícia Civil, que caminhava dentro da lógica e fechava o cerco em torno dos verdadeiros criminosos a partir de investigações de pessoas ligadas à família. Para os investigadores não havia dúvida de que o sequestro contara com a participação de alguém próximo. A outra vertente de investigação, a da PM, é que era absurda e mantinha dois inocentes presos e execrados em jornais.

Esta era a situação quando Pelejão, juntamente com Péricles, foi novamente se avistar com o arquiteto, agora na residência deste último. Era noite. O ambiente na casa era de consternação. Dava pena ver o desespero da mãe do rapaz. O pai também perdera a arrogância inicial e não tinha mais certeza de nada. Mas Pelejão trazia de volta a esperança:

– Senhor, tenho boas notícias para lhe dar. Não há mais dúvida de que o sequestro foi executado por bandidos do CV. Não se impressione se a Polícia Civil alcançar alguém muito próximo de vocês. Mas isto será depois do resgate. Não lhe vou narrar o que fiz, é segredo profissional. Só quero assegurar-lhe que, se tudo correr bem, na segunda-feira o senhor receberá contato. Fique atento. E mais: o preço do resgate não será absurdo, mas é bom que o senhor pague...

– Está certo, meu amigo! Só lamento que o senhor não me queira contar o que aconteceu nesses dias. Imagine como estou ansioso... – reclamou, agradecido, o arquiteto.

– Senhor, eu só decidi ajudar neste caso por força de minha amizade com Péricles. O meu dia a dia é outro. Mas achei justa esta causa. Portanto, confie no que fiz e aguarde. Porém, não posso deixar de repreendê-lo por causa dos inocentes que o senhor mandou à cadeia. Isto é prova de que em investigação criminal nem sempre o que aparenta ser confirma-se na prática. Espero que o senhor repare o mal que fez a esses inocentes. Mas só depois que seu filho já estiver a salvo! – discursou Pelejão, deixando em mistério o que fizera.

Na segunda-feira, conforme previra Pelejão, os contatos entre os sequestradores e o arquiteto foram reiniciados. Só neste dia ocorreram três ligações, nas quais os interlocutores chegaram a uma satisfatória conclusão sobre o valor do resgate: US$ 70.000,00 (setenta mil dólares) e R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ajustando-se o modo de entrega sem a presença da polícia. Na quarta-feira da mesma semana o rapaz foi libertado num trecho da Via Dutra. Buscou um telefone, ligou para o pai e logo já estava em casa sendo abraçado pela família.

Péricles telefonou para Pelejão convidando-o a ir à casa do engenheiro, mas ele, polidamente, recusou. Não pretendia cobrar qualquer valor por seu serviço e entendeu que sua ida à residência do sequestrado poderia ser vista como um tipo de cobrança. Péricles insistiu, mas não houve como demover Pelejão.

Dias depois, Péricles compareceu ao escritório de Pelejão, e, além de lhe agradecer o empenho, passou-lhe às mãos um envelope certamente contendo dinheiro, mais presente que pagamento por seus serviços. Pelejão esboçou uma recusa, mas nem tanto que o outro acabasse recolhendo o precioso envelope. Afinal, o detetive estava matando cachorro a grito, com um monte de contas a pagar e literalmente enfiado numa camisa-de-onze-varas.

Depois que Péricles se retirou, Pelejão e Clarimunda correram a abrir o envelope, dando ambos com a grata surpresa de fitar 20 mil dólares cintilando diante de seus olhos. Bom tempo de contas em dia e reserva financeira garantindo tranquilidade ao casal de detetives particulares. E, ainda naquele dia, as rádios noticiavam que a polícia prendera uma antiga empregada da casa envolvida no sequestro. Ela confessara tudo, inocentando o sargento e o soldado, que foram imediatamente libertados, com as esfarrapadas desculpas do sistema. Mais uma prova de que Pelejão tinha razão...

Tempos se passaram, e os dois PMs ingressaram na Justiça com o pedido de indenização pelos danos que sofreram. Devem estar até hoje esperando a decisão, já sabendo que, com muita sorte, se a sentença lhes for favorável, como dizem os renomeados juristas, talvez seus bisnetos a recebam... E quanto aos “investigadores espirituais” que aprisionaram esses inocentes?... Bem entraram em transe e em fade sumiram...


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  Estão sentados no chão batido e seco, no casebre de um só cômodo. Raimundo Nonato e Maria das Graças, o casal, nomes sant...