Bastaria
existir a Via Láctea no inexplicável Universo para caracterizar o absurdo da
existência humana na Terra. Porque todos os conceitos existenciais esbarram
nesta invencível constatação do absurdo, tal como é absurdo o suicídio no dizer
de Albert Camus; sim, mesmo que tudo seja irrealidade, e que a existência
humana não passe de ilusão, nós, mortais, supostamente pensantes, insistimos em
distinguir o natural do sobrenatural, ignorando o primeiro por ser complexo e
cultuando o segundo por imitação de rebanho. Olvidamos o natural também porque
a ciência e a filosofia não ultrapassaram o limite do “só sei que nada sei”.
Resta-nos, talvez, o sobrenatural como via de escape. Mas quando nos remetemos
a ele em profundidade vemo-lo tão incrível quanto o natural. Alenta-nos, nesta
hora de difícil opção, a Fé na existência de uma Entidade criadora do Universo,
ou de Multiversos, tanto faz. Mas o absurdo insiste em nos atordoar, e nem
sempre a Fé em Deus o supera. Sorte daquele cuja Fé é capaz de transpor todos
os absurdos imagináveis e inimagináveis.
Tornando
ao enigma de crer ou não crer (quiçá um dilema), imaginar que o Universo sempre
existiu ou que teria nascido dum Nada, sem intervenção divina, não dirime a
dúvida fundamental, e cá nos mantemos diante o absurdo. Mais enigmático ainda é
conceber esse Nada anterior à criação do Universo e aceitar como verdade
insofismável a existência de uma Entidade criadora fora desse Nada representado
pela ausência de tempo, e espaço, e energia, e matéria e Tudo. Essa Entidade,
claro, é nosso Deus ocidental, ou seriam as Entidades de outras denominações que
sabemos imperar mundo afora.
Cada
qual com sua Verdade!... Enfim, qualquer via de escape sobrenatural nos leva ao
absurdo e nos trancafia no maior de todos os absurdos: nossa efêmera existência
física por obra de Deus. Ah, não crer na Criação é absurdo! Por outro lado, crer
na Criação é também absurdo! Enfim, só nos é dado crer no absurdo ou nos
entregarmos a uma Fé tão convicta que dispensa absurdos. Sorte de quem a possui
no seu espírito, se é que existe, e eu tendo a crer que sim, para sorte minha.
Mas não excluo do meu pensamento o absurdo que permeia esta Verdade em mim,
atordoando-me.
Pensar
na existência humana a partir da Criação significa aceitar a racionalidade
diferenciadora dos animais e dos vegetais e crer em Deus. Tal posicionamento me
parece menos absurdo do que crer na Evolução a partir de um Big-Bang cuja
teorização somente tem servido para afagar egos científicos muito além do
entendimento do povo simples da Terra... Hum, que racionalidade é esta a que me
refiro?... Será que é a que conduz este texto sem pé nem cabeça?...
Como
saberemos, enfim, se realmente raciocinamos? Quantos movimentos repetitivos
executamos enquanto supostamente raciocinamos? Por que há tanta semelhança
biofísica entre humanos e animais? Como negar tantas outras similitudes
orgânicas entre seres humanos e animais? Bem, a diferença estaria no exercício
da razão, apenas, pois a emoção afeta também os animais, e cada qual a
manifesta do seu modo repetitivo, que chamamos instinto e também o manifestamos
muitas vezes. Sim, a emoção afeta o nosso corpo físico e psíquico, sim, e a
repetição dessa emoção é comum aos humanos e aos animais. Ou seria mais um
absurdo que aqui grafo em dúvida angustiante?...
Hoje
a mecânica quântica absurdamente assegura que a pedra pensa. E agora? Que dizer
disso? Será que os cientistas enlouqueceram? Não, não enlouqueceram, somos nada
mais que átomos a transmigrarem de um para outro corpo mineral, vegetal ou
animal ao longo de sua existência, seja efêmera ou eterna. Sim, para o átomo
não há contagem de tempo, parece-me eterno. Aliás, tudo que existe apenas
representa o que conceituamos em relação ao que sentimos ou não sentimos, bem
como imaginamos que as demais coisas ou pessoas sentem ou não sentem. É tudo,
afinal, clichê de comunicação repetitiva, tal como fazem os animais para se
comunicar abrindo asas, balançando rabos, emitindo sons etc. É tudo átomo!...
Vivenciamos
um mundo absurdo. Praticamos o absurdo desde o nascimento até a morte, com
ressalva de que no prelúdio de nossas vidas comemos e borramos como quaisquer
animais irracionais. Sim, somos instintivos na maior parte do tempo, este que
aparentemente nos transforma em seres pensantes porque o delimitamos em
convenção simplória (atavismos) sugerindo que tudo é imitação, e é como nos
comportamos: imitando o outro até a morte. Claro que um médico pensa diferente
dum engenheiro, se quisermos raciocinar com diferenças. Mas, fundamentalmente,
são seres humanos forjados do modo de sempre no mundo animal (racional e
irracional). Mas, se o animal não pensa em nada, também nós, humanos, evitamos
pensar no absurdo de o nosso planetinha gravitar num sistema tão minúsculo em
relação à Via Láctea que nem dá para imaginar que são bilhões de bilhões de
Galáxias no Universo infinito. Ou finito?... Ah, quem somos nós?...
Com
efeito, não há como não nos descambarmos ao espanto ante o absurdo. E talvez o
maior de todos resida no fato de nos situarmos dentro de nós mesmos e nos
deliciarmos com o que designamos subjetividade. Vemos coisas e pessoas e as
distinguimos segundo nossa aparente vontade. Parece que é o que nos basta, até
que miramos o céu distante e nos damos conta de nossa insignificante pequenez
diante de nossa absurda existência, se é que existimos...
Bem,
não posso negar certa angústia ante a vida e o mundo. Espanta-me o absurdo da
ignorância em que vivemos. Não somos nada mais que hipóteses improváveis até
materializarmos a hipótese extrema da inexistência: a morte. E mais ainda me
espanta a arrogância, o extremismo fanático e a crueldade dos seres humanos,
mesmo certos de que, humildes ou arrogantes, sensatos ou extremados, ricos ou
pobres, tornar-se-ão pó de estrela tais como no início de tudo... Ou antes do
início de tudo.
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