domingo, 14 de maio de 2017

O UNIVERSO E SEUS CONTRASTES




AMOR VERSUS ÓDIO

UMA ESPECULAÇÃO ABSURDA
 
Espanta-me ver a ciência demonstrando nossa ínfima importância em relação ao Universo e seus 14 bilhões de anos de existência: Cosmo que se expande velozmente em direção ao seu (dele) e nosso desconhecido destino. Quando ouço falar de big bang, big rip, big crunch etc., sinto-me um verdadeiro nada neste contexto cósmico. Imaginar a existência tão maravilhosa como incompreensível do Universo a partir da explosão de um simples ponto concentrador de energia, ou concebê-lo dentro da ideia de que sempre existiu, é mergulhar no absurdo. Pensar num Universo se expandindo até se tornar átomos soltos na escuridão do espaço cósmico é não menos absurdo; também a teoria que nos informa sobre a possibilidade de o Universo encolher-se até desaparecer dentro dele mesmo é exponencialmente absurda, embora os “Buracos Negros” aí estejam a nos provar que é possível tornar ao nada onde tudo teria começado.
Que fazer em meio a tanto absurdo? Ignorar que estamos enfiados neste contexto monumental apenas como átomos a nos formar como as demais matérias existentes? Qual será a “essência” disso tudo? Que será “essência”? Será um campo virtual a nos acalentar ante o desalento de que nada especial representamos como matéria? Afinal, seguindo a lógica do átomo “pensante”, a ciência não descarta que a pedra, também por ele formada, “pensa”. Essência, portanto, seria ter ideia da existência? Como avaliar tão complexa questão e acomodá-la dentro de nós? Seria, talvez, reduzindo tudo à crença na revelação, na hipótese de que tudo que existe partiu da vontade de um ente superior a que chamamos Deus? E, antes do Criador, que havia?...
Nesta minha elucubração absurda, não consigo imediatamente crer na revelação nem nas possibilidades apontadas pela ciência cósmica. Menos ainda creio na Evolução. A Mecânica Quântica esbarra em incertezas; a Astrofísica avança em direção ao desconhecido. Explica, mas não justifica e se perde em novas fórmulas inventadas e reinventadas por alguns humanos que se põem como seres mais inteligentes que a maioria da espécie humana. As religiões nos aprisionam a dogmas decorados. Penso então que o caminho é integrar-me à natureza das coisas e ao seu funcionamento essencial sem desmerecer a história passada, porém sempre a questionando. Não me adianta existir sem razão concreta. Preciso enxergar concretude nesta absurda existência na qual me insiro ou penso que me insiro, se é que penso, sabedor, se é que sei, de que a matéria pensante que represento em breve se tornará pó, voltará à forma original e livre do átomo. Ah, que sobrará de mim?... Átomo!... Um pingo de energia!... Será?
Neste ponto, devo admitir que entre tantos contrastes, com os quais deparamos no nosso existir, ressalva-se um que considero a base do meu pensamento: o amor versus ódio. E assim faço minha opção pelo amor, sem, entretanto, excluir o seu contraste nesta luta eterna do positivo com o negativo, que, paradoxalmente, se completam, embora se rejeitem... Por conseguinte, não consigo estabelecer a necessária fronteira a isolar um do outro. Não teríamos a noção do amor se não houvesse o ódio, ou das trevas se não houvesse a luz. Então, neste viver absurdo a esperar a morte, penso cultivar o amor. E logo me indago: “Como?”
Começo, porém, a aceitar o amor como moeda de troca, vendo-o como capaz de me fazer receber em dobro ou triplo o amor que se me expande em direção ao outro. Mas sei de antemão que o amor se expandirá somente até se pulverizar em átomos soltos e sem direção ao fim da existência material, ou seja, ao fim da vida. E o amor se tornará saudade; resumir-se-á às lembranças daqueles aos quais dediquei incondicionalmente o meu amor e eles mesmo assim desapareceram do mundo material, físico, pela morte. Enfim, nenhum amor é capaz de evitar o fim das pessoas nem das coisas. E depois que aqueles que amo ou amei se forem antes de que eu me vá, depois que desaparecerem todas as existências a mim ligadas pelo amor, este fenecerá como “essência”, como “éter”... E nada restará, seja sob a forma de big rip ou big crunch.
O meu alento, então, se reduz à certeza de que um dia nenhuma lembrança da minha existência haverá, assim como não mais há a lembrança de existências passadas, mas apenas tentativas de sua reconstrução teórica por meio da História e de outras ciências retrospectivas. E me conformo ante a ideia de que não vencerei o meu desalento. Ah, fujo disso e torno ao amor... Torno, sim, ao amor! E não são poucas as suas manifestações. Por meio delas, sinto-me sujeito; sem elas, sinto-me objeto a viajar com o Cosmo como parte ínfima.
Sei que o amor é energia positiva. Os físicos quânticos garantem ser o amor uma energia subatômica positiva, e dizem que isto é bom. Tomara! Se eu devo crer em algo como essência a sustentar minha matéria efêmera, que seja então o amor! Não aquele sugerido pelas religiões, sempre dependente de condições prévias e de ritos obrigatórios, muitos deles materiais e supérfluos.
Não! Falo de um amor quase animal, o que assistimos entre bichos em surpreendente interação. Falo de um amor que nos permite sentir a felicidade sem preocupação com o futuro ou com a morte. Falo de um amor desprendido, superior, puro, sem desprezar o amor restrito ao homem e à mulher eternizando lembranças ao gerar novos seres: os filhos. Estes nos proporcionarão a certeza da lembrança, desde que recebam amor.
Talvez seja egoísmo meu restringir o amor à relação entre o homem e a mulher; mas não há outro meio de procriar, e o ato sexual gera um prazer amoroso indescritível, desde que fruto de amor mútuo. O sexo deve ser consequente do amor. Não o sendo, nem é necessidade fisiológica. Pensando bem, o êxtase sexual entre dois seres que se amam lembra o big bang liberando sua energia cósmica.
Vamos, portanto, nos amar a nós intensamente; assim será fácil distribuir amor sem o imperativo mandamental, sem a escrita negativa, impositiva, proibitiva, esta que não levará a nenhuma salvação. O amor é a salvação! Jesus Cristo pregou o amor. Não se prendeu a nada além do amor que pregou aos humanos. E em nome do amor foi preso à Cruz para desaparecer do mundo físico. Crer no amor, enfim, é aceitar a Palavra simples de Jesus Cristo e confiar no depois... É o que me basta! Pois é certo que Ele, por gratuitamente disseminar seu amor à humanidade, um amor sem dízimos e tocaias retóricas, provando-o na Cruz, dela recebe amor até os dias de hoje. E o receberá até o fim dos tempos, quiçá em big crunch ou big rip, se é que haverá algum fim dos tempos e o fim do amor e do ódio, ou seja, o fim dos contrastes que nos informam o modo de existência do Universo ou não nos informam absolutamente nada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Família Nordestina

  Estão sentados no chão batido e seco, no casebre de um só cômodo. Raimundo Nonato e Maria das Graças, o casal, nomes sant...