sexta-feira, 19 de maio de 2017

OS MILAGRES DE N. S. DE NAZARETH





Era o ano de 4004 a.C.

Em 08 de setembro nascia na cidade de Nazareth aquela que estava tocada pela graça do Criador do Universo Infinito. A esse respeito, começarei transcrevendo o discurso do orador sacro Mgr. José Maria d’Almeida Ribeiro (sic), Prelado Doméstico de Sua Santidade e Pregador Régio em Portugal. Isto ocorreu no ano de 1874, no dia 08 de setembro, na Igreja do Paço, na Vila Barbacena, em Portugal.

“No meio deste profundo silêncio que se observa agora entre nós, arrebatado em espírito para as regiões do passado, parece-me ver o arcanjo Gabriel, voando pelo meio do céu, soltando na imensidade em pregão, que enche de assombro os céus e a terra; e que o seu pregão diz assim: – ‘No dia 08 de setembro do ano de 4004 da criação do mundo, dezessete anos antes da vinda do Messias, reinando na Judéia, Herodes, o Idoméo, nascerá em humilde casa da cidade de Nazareth uma formosa menina toda cheia de graça, sem mácula do pecado original, anunciada pelos profetas e esperada por todas as nações do mundo. Esta formosa criatura destinada para grandes maravilhas virá a ser Mãe do Messias prometido às nações: – Salvador do mundo, redentor dos escravos, amigo dos pobres e consolo de afligidos; ela será como a ESTRELA D’ALVA, que anuncia o próximo nascimento do sol! Chamar-se-á Maria, da qual nascerá Jesus, que é o Christo. Maria de qua natus est Jesus. O seu nome fará palpitar d’amor e entusiasmo o coração da humanidade. Milhares de templos e altares se levantarão em sua honra, em toda a redondeza; milhões de lâmpadas arderão, dia e noite, diante de suas imagens, TODAS AS GERAÇÕES LHE HÃO DE CHAMAR BEM-AVENTURADA: – reis e povos, poderosos e humildes se prostrarão na sua presença, chamando-lhe Mãe, nova Mãe do gênero humano.”

Quantos não têm se prostrado aos pés da Virgem Maria desde então? Quantos não foram e não têm sido os seus milagres ao longo dos tempos da vida humana na Terra? Infinitos, tão infinitos que não dariam para saber de todos eles para registrá-los integralmente. Por isso, vamos tentar levar ao leitor, com o pensamento voltado à data da Natividade de Nossa Senhora de Nazareth, – 08 de setembro, – parte da história da Santa ocorrida bem perto de nós.
Sim, se quisermos contar os milagres de N.S. de Nazareth, mesmo se falando em outros lugares onde a Santa é especificamente venerada, há uma cidadezinha no Estado do Rio de Janeiro que possui em seus arquivos comoventes histórias de milagres da Virgem Maria, Mãe de Jesus: a cidade de Saquarema, na Região dos Lagos. E é para lá que vamos agora viajar, saindo do Rio de Janeiro ou de Niterói. Viagem curta, de talvez 130 km, se sairmos do Rio, e 110 km, se partirmos de Niterói ou de São Gonçalo. Mas antes, para que nos venha a inspiração, vamos transcrever a letra do Hino a Nossa Senhora de Nazareth de Saquarema para ser cantado com a música do Hino em louvor a Nossa Senhora Aparecida, de autoria do Conde Dr. José Vicente de Azevedo. A letra desse Hino é de autoria de um devoto que foi Primeiro Secretário da Irmandade de Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema, cujo nome por ora desconhecemos:

Estribilho
Estribilho
Viva a Mãe de Deus e nossa Mãe
Refúgio de nossa fé
Viva a Virgem Imaculada
Senhora de Nazareth!
4º Protegei a Santa Igreja,
Protegei a Santa Sé
Protegei nosso Brasil
Senhora de Nazareth!
1º Virgem Santa, Virgem Bela
Puro lírio de Jessé
Amparai-nos, socorrei-nos,
Senhora de Nazareth!
5º Salve 08 de setembro,
Marco excelso de nossa fé
A Vossa Natividade,
Senhora de Nazareth!
Estribilho
Estribilho
Velai por nossas famílias
Com seu casto São José
E velai por Saquarema
Senhora de Nazareth!

6º Parabéns, oh! Mãe querida
Pois hoje diz o calendário
Ser hoje o festivo dia
De vosso aniversário
Senhora de Nazareth!
Estribilho

3º Amparai os pescadores
De tão fervorosa fé
Abrigai os navegantes
Senhora de Nazareth!

Repetir este último quarteto, sem estribilho, e terminar. E só deve ser cantado no dia 08 de setembro.



Foi em Saquarema onde tudo aconteceu...

Quando o arcanjo Gabriel proclamou nos céus que muitos templos e altares se levantariam em honra à Virgem Maria, decerto deve ter anunciado que ela escolheria esses lugares no mundo para que fosse venerada. Saquarema foi agraciada com a escolha, conforme aqui registrarei seguindo fielmente os relatos publicados em 08 de setembro de 1978, em livreto produzido pelo Provedor Arino de Sá Carvalho e pela Juíza Maria Ubiracinda Alfradique da Silva.
Antes devo explicar como funciona a organização da festa anual. Há sempre uma comissão organizadora tendo como figuras centrais um Provedor e seus Secretários, além de um Procurador e diversos suplentes e mesários. Todo ano é nomeada a Juíza, geralmente uma reconhecida devota ligada à comunidade de Saquarema, mesmo que lá não resida. Assim surgiu o livreto, que aqui reproduzo na íntegra, como parte desta reflexão, eis que corresponde à síntese da alma do povo devoto de Nossa Senhora de Nazareth. São lindas e comoventes as histórias:

“Construíram Saquarema numa língua de terra que o mar envolve em um abraço carinhoso. Cidade minúscula e de hábitos provincianos, Saquarema possui, entretanto, uma Matriz de incalculável valor histórico. A tradicional e secular Matriz de Nossa Senhora de Nazareth de Saquarema se eleva bem no alto de um monte rochoso, com uma cruz benéfica, que os navegantes de longe contemplam, erguida para o céu. A tetra-secular Matriz, cuja alva silhueta os viajantes avistam desde muito longe, tem uma história curiosa, em que o miraculoso se confunde com o real. Passamos a narrar a lenda simples e suave que há muitos anos esvoaça em torno da população de Saquarema:
‘Referem as crônicas que em oito de setembro de 1630, a noite fora tempestuosa. O vento soprando sobre o mar bravio, fazia com que o oceano rugisse cada vez mais, atirando ondas revoltas sobre os cachopos da costa. Muitas árvores foram derrubadas e as pequenas casas de pau-a-pique, cobertas de palha, erguidas na margem da lagoa, como por milagre suportavam o golpe da tempestade. De repente, a chuva parou, o vento distendeu as suas asas para outras plagas, mudando de direção; o mar começou a beijar meigamente a areia branca da praia imensa, e os primeiros clarões do dia, pela aproximação do sol, transformaram o oriente em uma enorme pétala de rosa.
Os pescadores, cantando loas ao Criador, correram para o mar, em busca das suas canoas e redes. Índios, mulheres e crianças os seguiram, alegres e felizes para vê-los partir, em busca do deserto silencioso das águas, onde os peixes, como barras de prata, nadavam aos cardumes. Gritos de admiração partiram de muitas bocas: – Milagre! Milagre!
Formava-se um grupo e os mais crentes, de joelhos, erguiam os olhos para o céu. Ali, naqueles penedos que se perdiam ao longe, jazia a doce imagem da Virgem, imagem que no fragor da tempestade fora arrojada à costa pelo mar irado, e ‘ali colocada pela mão de algum mortal’. Da sua boca partia um doce sorriso, que parecia acalmar as almas de toda aquela pequena e boa população. E logo a boa nova se espalhou, de choupana em choupana, para uma casinha tosca ao lado da lagoa.
Conta-se que a imagem de Nossa Senhora de Nazareth, – nome dado à imagem da Virgem, – no dia seguinte ao seu aparecimento, não mais estava na casinha tosca onde fora colocada por mãos misericordiosas. Quem a tiraria da casinha? Ninguém sabia. Só se soube que Nossa Senhora de Nazareth fora de novo encontrada no mesmo lugar da praia, onde surgira. Removeram-na. E mais uma vez ela desaparecera. Quem a teria roubado? Comentaram esse fato inexplicável: – Ninguém. – Quem teria praticado tão grande sacrifício? Mas o fato é que a imagem foi de novo encontrada no lugar em que aparecera pela primeira vez.
Aí, um padre carmelitano, sesmeiro do Carmo, no lugar de Ipitangas, fez ver ao povo que era preciso construir uma capela. Dessa feita, porém, o povo julgando ver em todos aqueles acontecimentos uma ordem do céu, construiu no alto da colina, onde hoje existe a vetusta matriz, uma capelinha; e o povo em romaria carregou a Santa para o seu nicho.
Em 1660, antes de agosto, o capitão Manoel de Aguilar Moreira e a sua mulher Dona Catharina de Lemos transformaram a capelinha na Igreja, tendo o provimento do Bispo do Rio de Janeiro, Dom José de Barros Alarcão de curada e filial (sic) a Matriz de Nossa Senhora de Assunção de Cabo Frio, a cujo Município pertencia o terreno de Saquarema. Essa Igreja foi em 1675 substituída por uma de maiores proporções, construída de pedra e cal.
Por alvará de 12 de janeiro de 1755, foi Saquarema elevada à Freguesia, em resolução de Sua Majestade, de 29 de novembro de 1750. E a 13 de novembro do mesmo ano foi criada e erigida de natureza colatéra (sic) e para seu primeiro pároco colado foi apresentado, aos 16 de janeiro de 1755, o Reverendo Padre Antônio Moreira, que depois de colado foi empossado pela provisão de conformação de 23 de abril do mesmo ano de 1755.
Arruinada a Igreja, os moradores da margem setentrional da lagoa de Saquarema apresentaram ao Bispo Dom José Caetano da Silva Coutinho o seguinte requerimento: Senhor, dizem os moradores principais da Freguesia de Saquarema, que pela Provisão inclusa mostram os supl., que o Ex.mo e Rev.mo Bispo Capelão Mor designara certo lugar mencionado na mesma para a construção da Igreja, que deve ficar servindo de matriz, se não podem erigir Igrejas sem licença expressa de Vossa Majestade, seja servido fazer-lhes a graça de revalidar a concessão inclusa, mandando passar-lhes a competente Provisão, para, em virtude d’ela, dar-se princípio à obra, como está determinada. P. a V. Majestade se digne de fazer aos sup. a graça a que aspiram. E. R. Mace. P. em 24 de outubro de 1820.’
O Procurador Custódio José Coelho, atendendo à reclamação, mandou o Bispo que fosse levantada a nova Matriz no lugar denominado Boqueirão do Engenho, nas 50 braças de terra que para esse fim doava o Tenente Luiz José de Almeida. Construída a nova Igreja, para lá levaram a Santa em procissão, e com solene rito, colocada a Excelsa Virgem em seu novo nicho.
No dia seguinte, grande grupo de romeiros dos arrabaldes, sentados nos lajeados das calçadas, esperavam do sino as badaladas, chamando todos para a Santa Missa. O silêncio que até então reinava foi quebrado pelas vozes do clero: – ‘A Santa não estava onde fora colocada, desaparecera’. – Como das outras vezes, encontraram a Santa nos alicerces de sua velha Igreja.
O povo vendo nisso um milagre, tendo à frente o vigário – Antônio Joaquim Freitas –, deu logo começo à construção de uma Igreja, prestando-se homens, mulheres e crianças ao carreto de pedra, cal e madeira para a construção; e já em 1837 a substituíram pela matriz atual, que é incontestavelmente um dos templos católicos mais importantes do Estado do Rio e quiçá do Brasil, não só pela sua beleza arquitetônica, arrojado empreendimento dos nossos antepassados, como pelas tradições milagrosas da sua Excelsa Padroeira, a Virgem de Nazareth. Pela construção da nova Matriz, concluída em 1837, ficou sem efeito a Provisão de 12 de maio de 1820.”
O livreto a que me estou reportando ainda traz outras importantes revelações, fruto de pesquisas intensas dos devotos de N. S. de Nazareth. Consta nele:
“Da provisão datada de 1675, que se acha registrada a fls. 95 do livro 9 dados obtidos da freguesia de São Sebastião do Rio de Janeiro, consta que a imagem de Nossa Senhora de Nazareth fora achada milagrosamente nas costas do mar bravo de Saquarema, entre uns penedos em que batia o mar, no dia 08 de setembro de 1630.”

São poderosas as informações históricas sobre os milagres de Nossa Senhora de Nazareth em Saquarema, conforme demonstrarei na sequência deste registro que ora faço. Mas por que será que a Virgem escolheu Saquarema? Quem já a visitou talvez entenda mais facilmente a escolha. Devemos falar mais sobre as belezas de Saquarema. O livreto ainda registra uma informação histórica deveras interessante:

“Saquarema, a maior nação de índios Tamoios. Por séculos esses indígenas dominaram a parte litorânea da lagoa em que hoje se localiza a sede do município e apelidaram a lagoa em apreço de – Sóco-rêma –, que quer dizer bando de socóses – ave pernalta muito abundante então na referida lagoa, mais tarde passou por evolução da ocupação colonial a ser SAQUAREMA, nome que persiste até hoje.”

Desde a minha adolescência tenho minha vida ligada a Saquarema. Por isso é um prazer imenso escrever sobre a cidade e, principalmente, sobre a Virgem de Nazareth, a Santa padroeira daquele recanto. E, por tudo o que até agora consignei, o dia 08 de setembro é ainda hoje o cerne da vida daquela linda cidade, data em que não só o povo local, mas também os fluminenses e cariocas festejam a Natividade de N.S. de Nazareth.
Sim, muita coisa acontece em locais distantes em função do dia 08 de setembro, dia em que Saquarema se engalana para receber milhares e milhares de romeiros. Eles vêm de todos os pontos do Estado, especialmente da própria Região dos Lagos e dos municípios de Niterói, Maricá, São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito. Mas também de muitos outros, para que não se cometa injustiça aos que deixo de citar, apenas por amor à brevidade.
Sei, entretanto, que Niterói e São Gonçalo são os municípios que mais derramam na festa um povo devoto de N.S. de Nazareth. Sei disso porque na adolescência sempre destinei o dia 08 de setembro ao fim de homenagear a Santa. E, diga-se a bem da verdade, de também participar de agradável excursão praiana. Assim era e é até hoje, e tudo começa bem antes, com famílias e mais famílias reunindo-se em suas casas e se organizando para o grande dia. Fazem até “caixinha”, mês a mês, para juntar o dinheiro do aluguel de ônibus, e também destinado ao preparo coletivo do repasto dos romeiros. Muitos são os ônibus que conduzem tradicionalmente as mesmas pessoas durante anos a fio, com poucas variações. Sem dúvida, é um costume católico de seguidas gerações.
Sei disso porque eu, por muitas vezes, integrei-me ao grupo de famílias do meu bairro, em São Gonçalo, – o Desvio de Dona Zizinha, –  liderado por José Canero e sua mulher Maria, ambos devotos da Santa, principalmente Maria. Mas eles, enquanto vivos e com saúde, nunca, em ano nenhum, faltaram à festa. Dizem que José Canero ia pelo prazer da excursão, mas é difícil saber o que vai dentro da alma de cada um.
Conheço muitas dessas famílias. Algumas se mantêm até hoje ligadas à Santa e à cidade, como eu mesmo no passado fiquei, até mantendo casa naquele recanto praiano maravilhoso. Por isso conheço um pouco do que ocorre na pequena cidade, que não recebe forasteiros apenas em razão de sua beleza à beira-mar, mas principalmente por causa da crença nos milagres de N. S. de Nazareth. Há lindas e assombrosas histórias, acreditem! Muitas mesmo, que dariam um belo compêndio de milagres.
Nos bons tempos da adolescência, uma vez a motivação me levou à festa na carroçaria de um caminhão pau-de-arara que levantava a poeira barrenta pela estrada de chão que liga Maricá a Saquarema. Todos chegaram na cidade da Santa com os cabelos vermelhos do barro. Depois, os caminhões foram proibidos, quando então prevaleceram os ônibus no transporte maciço dos devotos.
É necessário explicar tudo isto, para que todos compreendam e não duvidem que no dia da festa a pequena cidade de Saquarema recebe mais de 150.000 pessoas, que para lá se deslocam em carros e ônibus, mais de cinco mil ônibus e milhares de carros menores. Se quiserem conferir, larguem tudo e verifiquem indo lá em 08 de setembro. Se vocês lá foram um dia, sabem; se não, não sabem o que estão perdendo: um dos maiores e mais lindos espetáculos de fé católica que ocorrem no território fluminense.
Para quem não conhece a cidade de Saquarema, digo que é das mais belas paisagens à beira-mar. Ao se chegar a Bacaxá, basta seguir a estrada que leva à cidade, e... Deslumbrante! Maravilhoso! Belíssimo! Sim, é este o cenário com o qual deparamos ao avistar Saquarema. De um ponto elevado da estrada, antes de chegarmos, vale a pena parar e fitar o que surge diante de nossos olhos: um cartão postal indescritível.
Veem-se o mar e a lagoa interligados por uma estrada de águas azuis. Mar imenso, infinito, espumante em ondas brancas a quebrar nas areias das praias. E vê-se a ponte que atravessa o canal da lagoa; e vê-se o mais grandioso espetáculo, a mais formidável visão que um católico pode supor um dia avistar ao vivo: a majestosa Igrejinha de N. S. de Nazareth cravada no alto da colina de pedra, verdadeira montanha de fé, com as suas escadarias de muitos degraus ligando-a do alto de onde está construída, coberta apenas por um céu de infinito azul, ao pé do chão. E o mar como maravilhosa moldura de um quadro divino. Digo com fervor que é difícil não acreditar nos milagres da Santa. Basta olhar da estrada a linda paisagem que se oferece à apreciação de todos para se ter certeza dos milagres que ali ocorrem. A própria beleza, deslumbrante, que se oferece às vistas, já é um milagre da Natureza, e, conseguintemente, um milagre da Santa, ao marcar ali seu lugar de permanência eterna.
Saquarema possui infraestrutura simples. E, talvez, somente capaz de suportar demandas populacionais em torno de cinco mil pessoas, isto no pico do verão que torna a cidade entupida de gente. Imaginem, de repente, ter de atender a 150.000, ou mais, num dia só; imaginem agora uma cidade, cujas ruas mal absorvem o tráfego de poucos carros e singelas carroças insistindo em sobreviver, de súbito tomada por milhares de carros e ônibus; imaginem um espaço relativamente pequeno, – o centro da cidade, imprensado entre o mar e a lagoa, – de repente acolhendo espetacular multidão. Concordam que só por milagre?... Mas não é este o milagre que contarei. Vamos às histórias...
Era o ano de 1974..

Neste ano, o dia 08 de setembro não se marcou na festa só por alegrias. A ponte do canal não suportou a pressão de tanta gente a passar. Houve pânico e mortes, por pisoteio, num lugar que recebia a multidão sem prévio planejamento destinado a sua segurança. Poucas mortes, três ou quatro, se não me falha a memória, e alguns feridos. Um aviso da Santa, talvez, o que também não duvido, porque no ano seguinte, – o meu primeiro na Defesa Civil, – recebemos, um capitão do Corpo de Bombeiros e eu, a missão de organizar e comandar a segurança dos fiéis. 

Era o ano de 1975... 

Eu era capitão da Polícia Militar. Lembra-me até hoje o diálogo do comandante do Corpo de Bombeiros e dirigente da Defesa Civil do Estado, coronel do Exército Brasileiro Evaristo Antônio Brandão Siqueira, devoto de São Fidelis e filho daquela cidade do noroeste fluminense. Falava para mim e para o capitão Edson Tavares da Silva, do Corpo de Bombeiros:
– Chamei-os aqui para lhes destinar uma árdua tarefa, por ordem direta do governador. Vocês vão coordenar a segurança da festa de Saquarema este ano. O grave acidente do ano passado não se pode repetir – disse o comandante. – Também lhes quero assegurar que vocês terão o apoio necessário ao cumprimento da missão. Vocês devem iniciar o planejamento e se reportarem a mim durante todas as fases – concluiu.
Não havia mais dúvida, pusemos mãos à obra, eu e o capitão Silva, conforme a seguir pretendo expor. Mas, se para o capitão Silva tudo era novidade em relação à missão distante, para mim nem tanto, que já conhecia bem a cidade e a dimensão do problema que iríamos enfrentar. Nós ambos trabalhávamos na Defesa Civil.
Assim a Defesa Civil tomou conta do povo na festa...
Não me vou prender em minúcias técnicas. Apenas sublinho que muito ajudaram, antes, durante e depois da data da festa: o Exército, a Aeronáutica, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a Secretaria Estadual de Saúde, além de muitos outros organismos federais, estaduais e municipais.
Fizemos as primeiras reuniões, em semanas anteriores à festa, na prefeitura da cidade e na sede da Defesa Civil, em Niterói. Também participaram os membros da Irmandade de N. S. de Nazareth, cujo líder na época era o ilustre Juiz de Direito Dr. Liomil Pinheiro, filho da cidade e devoto da Santa, além do Prefeito Jurandy da Silva Mello.
Feitos os primeiros diagnósticos, partimos ao mapeamento dos problemas com base em experiências anteriores, incluindo-se a mais grave: o pânico e as mortes na ponte. De caminho, elaboramos as soluções envolvendo recursos diversos, como: helicópteros, ambulâncias, equipes paramédicas e médicas, policiamento nas estradas, direcionamento do tráfego e controle do estacionamento dos milhares de carros e ônibus. Enfim, tudo o que se possa imaginar de meios materiais e humanos, com o fim de garantir a ausência de acidentes e de outros transtornos entre os fiéis.
Quinze dias antes da festa, o Batalhão de Engenharia do Exército montou uma ponte auxiliar, ao lado da principal (feita em concreto, porém muito antiga), para facilitar o acesso dos milhares de fiéis que se dirigiriam a pé ao centro da cidade e à igreja. Nós, da Defesa Civil, instalamos um Posto de Comando Avançado (PCAv) em barracas de lona na cabeceira da ponte, na parte interna da cidade. Tudo pronto, e finalmente atingimos o momento da festa, como se estivéssemos à espera de monumental peça teatral.
Enquanto isso, e desde muitos meses antes, um grupo de devotos se preparava para executar uma das mais honrosas tarefas: vestir N. S. de Nazareth para seu passeio em procissão. Esses devotos, em sua maioria pessoas idosas, reuniam-se na Igreja de São Jorge, na Rua Alcides Figueiredo, Centro de Niterói, passando o tempo a costurar e a bordar o belíssimo paramento da Santa. Antigamente, o paramento trazia um manto azul da cor do céu. Mas depois a Santa passou a ser paramentada com vestes mais ricas em cores e bordados dourados. Lindo também é o Andor, enfeitado de flores e formando um espetáculo divinal a sua imagem em procissão. E não é diferente no Altar em que ela é venerada, com as flores em torno e o paramento sempre lindíssimo.
Maravilhosa é a imagem oficial da Padroeira de Saquarema. Ela surge no céu, sentada no seu trono apoiado por nuvens carregadas de anjos. Traz no colo, do seu lado esquerdo, o Menino Jesus. Na cabeça, veem-se a majestosa coroa dourada e o brilho dela sempre resplandecendo aos olhos dos fiéis. Cobrindo a cabeça, por baixo da coroa, está o manto azul e dourado que lhe vem cobrindo as costas e as laterais até tocar as nuvens de anjos. Tudo isto em contraste com as vestes em tonalidade rosa, formando um conjunto de rara beleza. Ainda aparece, nas imagens gravadas, o céu e o mar como moldura da colina de pedra onde está cravada a belíssima igreja construída em seu louvor. Na verdade, palavras serão sempre poucas para materializar o esplendor da Virgem Mãe de Jesus. A Virgem de Saquarema.

Tarde de 7 de setembro, Dia da Pátria e véspera da Natividade da Santa...

Começam a chegar os primeiros carros e ônibus, uns atrás dos outros, uma romaria de veículos rompendo a madrugada. Começa antes, mas já lá estávamos nós, prontos para receber a multidão homens, mulheres e crianças; novos e velhos; farofeiros e ambulantes; beberrões e farristas; e os devotos de N. S. de Nazareth, estes em absoluta maioria. Estávamos como os guardiões da tranqüilidade e da segurança de todos.

Manhã de 08 de setembro, dia da festa..

O dia amanhece lindo! O sol rutila no mar azul, voltando seus raios aos céus a chamar os anjos. Eu e o capitão Silva, – competente profissional do Corpo de Bombeiros, outro igual não conheci, – observando de helicóptero o movimento e avaliando cada passo do funcionamento do esquema que comandávamos. Um PM e um Bombeiro unidos num só objetivo: garantir o bom começo e um final feliz para todos que lá comparecessem... Todos, sim, que ao final da tarde já eram mais de 100.000 pessoas, segundo tímida avaliação. Acreditávamos na ajuda da Santa, mas sabíamos que os problemas viriam. E o primeiro foi trágico...
Alerta na praia, criança se afogando!...

 Parti em viatura, e o capitão Silva, em helicóptero. Ele chegou antes, o garoto fora resgatado do mar por banhistas. Estava mal. O capitão Silva, abnegado salvador de vidas, agarrou-se à criança, – de aproximadamente oito anos, – e resgatou-a por ar até o Posto de Saúde. Caminho curto e dramático, ele executando respiração artificial. Empurrando ar no pulmão do corpo inerte do menino, aterrou no Posto de Saúde. Vieram os médicos, a situação era desesperadora, a primeira prova que enfrentávamos no dia. Cheguei em seguida e... perdemos a primeira prova, a criança não resistiu...
Não nego que a emoção do capitão Silva emocionou-nos a todos, e discretamente choramos... Como em outras vezes e em outros lugares ainda choraríamos muito diante de vidas infantis ceifadas por tragédias... Não vou contá-las aqui para não desviar o pensamento e a emoção.
O abatimento fora grande, mas a festa não tomava conhecimento de nada...
Por volta do meio-dia a cidade já fervilhava. Ambulantes por toda parte, o povo subindo e descendo as escadarias da igreja, muitos galgando degrau a degrau, de joelhos, como geralmente fazem os pagadores de promessas na igreja de Nossa Senhora da Penha.
A partir das primeiras horas da tarde crescia o movimento de fiéis com vistas à procissão. Sem dúvida, o instante era de rara e belíssima demonstração de fé cristã. E lá estávamos, Silva e eu, amargando a primeira perda e enfrentando problemas mil, uns atrás dos outros, quando, como que por encanto, prevaleceu o silêncio contrito de todos à passagem da procissão.
Enorme é a procissão, a imagem da Santa deslumbra no esplendor da passagem! A noite vence o dia quando a procissão segue o seu roteiro de fé. Aí, então, tudo fica iluminado por velas, como se N. S. de Nazareth estivesse jogando no chão suas lágrimas de fogo pela morte da criança, ou assim nos dissesse a nós que o menino está com Ela. Sim! Era tão forte a divindade, que tive a certeza de que acredito em milagres.
Os fiéis passam cantando em coro emocionante; seguem na fila, abrindo caminho entre o povo deslumbrado; e derramam fé em cima de todos nas ruas. A banda, tocando hinos religiosos, dá o toque mágico da arte na fé. Nesta hora – eu juro! – não há católico que resista a uma lágrima; não há católico que não se ufane de sê-lo.
Era assim que meus companheiros e eu estávamos, vendo passar a procissão frente às nossas barracas, amarelas como o uniforme da Defesa Civil, enquanto os foguetes enfeitavam os céus com o pipocar de suas estrelas cintilantes por cima do mar imenso. Muito lindo, acreditem! Muito lindo!

Teria sido um milagre?... 

Terminada a procissão, já a festa fervilha de novo. Agora já se vê a alegria substituída por isolados excessos, principalmente devido às bebidas alcoólicas. Inevitável isso em festas de milhares nas ruas. E muitos problemas para nós, que partíamos a enfrentá-los sem descanso. E houve então os tiros, dois tiros disparados por um desses irresponsáveis e bêbados, cerca de trinta metros apenas de onde eu estava postado, fardado de amarelo. Caiu a vítima, logo socorrida pelo capitão Silva e outros, enquanto eu partia atrás do criminoso, a pé e desarmado, no meio da multidão que se abria, em pânico.
O criminoso apontava-me a arma com a mão direita, ameaçando-me, sem atirar. E eu, a poucos metros dele, desviava-me à sua esquerda para sair da linha de tiro. Quando ele revirava o corpo para me ameaçar do outro lado, eu novamente me desviava para o lado contrário, bem perto de alcançá-lo, ele nervoso, correndo e olhando sem parar para trás. Por isso, não viu o tenente Torres, que vinha contra ele na direção oposta e frontal. E houve o entrechoque, com o tenente colidindo-o na carreira, enquanto eu pulava segurando firme sua mão armada.
Nem tanto assim, em câmara lenta, como aqui descrevo, mas em velocidade total e em meio ao pânico e à gritaria da multidão. Embolei-me com ele, ah, e recebi de presente, nos olhos e no nariz, uma carga de gás tranqüilizante disparada pelo tenente na direção do rosto do criminoso no momento em que rolávamos no chão. O tenente errou o rosto dele e acertou o meu, deixando-me tonto. Não era mais problema, o criminoso estava imobilizado e sua arma, recolhida: uma garrucha.  Ele disparara os dois tiros...
Eis aqui o que acredito ter sido um milagre da Santa: uma das balas penetrou no pulso direito da vítima, atravessando-o e quebrando-lhe os ossos em pedaços; a outra lhe penetrou o peito, na altura do coração, mas parou na carne. A primeira era nova e a segunda, velha. Milagre! Se fosse o contrário, a vítima estaria morta. No Posto de Saúde, o trabalho do médico foi apenas retirar, com a pinça, aquele projétil parado na carne, à beira da pele. Entre os presentes ninguém duvidava de que fora um milagre da Santa, especialmente a vítima...

Teria sido outro milagre?... 

Eram oito e trinta da noite ou pouco mais. O capitão Silva e eu estávamos na barraca, ainda não refeitos do susto. Nesse instante, acercou-se de um colega uma senhora. Eu logo a reconheci, pois era do meu bairro em São Gonçalo: Dona Maria da Conceição Coutinho. Quando a vi em ansiedade, fui ter com ela, que começara a contar o seu drama, ou melhor, o drama do seu grupo, aquele, da Igreja de São Jorge, que fora paramentar N. S. de Nazareth para a procissão. E ela me disse que o ônibus que conduzia o seu grupo em retorno atolara-se na areia em Jaconé, local na beira da praia e em estrada de chão que dá acesso ao Município de Maricá, já a caminho de Niterói. Estava ela ainda tranquila.
– Olá, Dona Maria! Que houve? – indaguei-lhe.
– Oh, Emir! Que sorte encontrá-lo aqui! Estamos com nosso ônibus atolado em Jaconé. Preciso avisar à empresa para vir outro. Você pode ajudar?
– Claro que sim, Dona Maria! Vou providenciar, e também mandar a senhora de volta pra tranquilizar os demais.
– Muito obrigada, Emir! Eu preciso voltar, porque está todo mundo preocupado lá no ônibus. O lugar é muito escuro e está frio demais.
Mandei uma viatura levá-la, enquanto o capitão Silva acionava a Central de Comunicações em Niterói.
– Posto de Comando Base! Posto de Comando Base! Posto de Comando Avançado chamando, câmbio! – iniciou o capitão Silva.
– Na escuta! Operando Dutra! Transmita a mensagem! – respondeu o servidor Dutra, que apoiava a retaguarda da operação, em Niterói.
– Positivo! Pessoas idosas em apuros; ônibus atolado na areia em Jaconé. Providencie contato com a empresa pra mandar rápido um outro.
– Positivo! Vou proceder...
O capitão Silva repassou os dados da empresa. A partir daí ficamos envoltos em inúmeros problemas que me dispenso em contar. Assim, distraídos em vista desses outros acontecimentos, não vimos o tempo passar. Pelas onze e meia da noite eu e Silva estávamos em frente da barraca de comando vendo a festa esvaziar-se. Neste momento, veio-me uma ansiedade crescente, tomando-me o pensamento e angustiando-me deveras. O capitão Silva não estava diferente de mim. Também sentia no seu íntimo alguma coisa mal resolvida. Não resisti mais à dúvida e indaguei-lhe, rompendo o silêncio:
– Irmão, será que correu tudo bem com as velhinhas e os velhinhos do ônibus?
Ele me fitou com semblante sério e nem respondeu. Correu ao rádio e contatou-se com o operador Dutra:
– Comando Base! Comando Base! Comando Avançado chamando!
– Na escuta! Dutra operando!
– Informe situação do ônibus requisitado!
– Positivo! A empresa ficou de mandá-lo imediatamente após a solicitação! Vou contatar-me com ela para informar com exatidão, positivo?
– Positivo! Estou aguardando! Câmbio Final!
Daí a cinco minutos, não mais:
– Comando Avançado! Comando Base chamando, Câmbio!
– Na escuta! Capitão Silva operando! Prossiga!
– É para informar que o ônibus ainda não seguiu. A empresa informou que está aguardando o recolhimento do ônibus em trânsito para enviá-lo...
Minha nossa! Desespero total!...
Enquanto o capitão Silva ia recebendo a resposta, – comigo ao seu lado ouvindo-a, e antes mesmo de ele encerrar a comunicação, – parti para lançar o alerta. Em poucos minutos saíamos: um comboio de ambulâncias e outras viaturas voando velozes ao local do acidente. O frio que vinha do mar cortava nossas carcaças, enquanto um outro frio subia e descia em nossas espinhas.
Oh, Deus! Como estariam os velhinhos e as velhinhas?...
Desespero é a palavra que melhor define aquele momento. Partimos com sirenes e giroscópios ligados, pulando pneus nos buracos da rua beirando o mar. E rapidamente chegamos ao local... E vimos o desespero: os velhinhos e velhinhas tremendo de frio, muitos passando mal, as senhoras precisando ir ao banheiro, envergonhadas, muitas chorando de medo na escuridão total, um drama, quase tragédia. Não chegara a tanto porque ali estávamos, os médicos e nós, atendendo aos mais afetados e resgatando todos para nossas barracas.
Deixamos o local policiado e conduzimos os pertences do grupo ao Posto de Comando. Mandei servir-lhes café com leite e biscoitos. Logo estavam todos tranquilos e aquecidos, aguardando o novo ônibus em segurança. Eu olhava para Silva e ele para mim. Pensávamos a mesma coisa: houvera algo mais... Os velhinhos e as velhinhas, agora felizes, rezavam e cantavam sem parar. Dava gosto de ver e sentir a emoção...
– Milagre? – indaguei do Silva.
– Tenho que sim! – respondeu-me.
– Também tenho que sim! – concordei.
A emoção ainda mais se elevou quando um dos velhinhos sugeriu ao grupo uma salva de palmas em nossa homenagem. Em seguida, todos começaram a agradecer a N. S. de Nazareth e a São Jorge. Rezavam, cantavam e batiam palmas... Rezavam, cantavam e batiam palmas... E garantiam o milagre! Ninguém ali duvidava de que fora um milagre, ante aquela explosão de fé e de alegria.
Milagre de ambos? De São Jorge, que levara em suas mãos aqueles fiéis a vestir N. S. de Nazareth para o sublime momento da procissão?... E dela, ao proteger em seus braços os devotos que lhe vieram homenagear com fervor? Que boa dúvida! Quem dera todas as dúvidas fossem assim! Por que pensar diferente? Ora, em meio a 5.000 ônibus que saíram sem problemas, somente aquele necessitara do empurrão divino? Por que não acreditar que nós fomos escolhidos como prêmio pela tristeza passada na trágica manhã? Por qual motivo seria a escolha dos devotos de São Jorge a paramentar N. S. de Nazareth? Quem sabe, talvez, por ser ele um guerreiro... E Santo Padroeiro da Polícia Militar...
Todos nós acreditamos que tudo que aconteceu naquela festa de 1975 foi milagre. E até hoje cremos nisso, eu e o capitão Edson Tavares da Silva, que já está coronel na reserva e continua sendo o maior “bombeirão” no conceito de sua amada corporação, um abnegado salvador de vidas a quem muito admiro...

Teria sido um milagre?... 

Era o ano de 1971... 

Naquele ano, a festeira encarregada de preparar a igreja para a Ladainha que se rezava e se reza na véspera da festa, dia 7 de setembro, era exatamente a filha de Dona Maria da Conceição Coutinho, de nome Menilda Coutinho Tristão. A cada ano é designada uma devota ou um devoto para liderar os fiéis na limpeza e na arrumação da igreja, dentre outros misteres, uma tradição que perdura até hoje. Mas havia uma grande tristeza no coração de Menilda: a cidade, faltando três dias para a festa, não tinha uma gota d’água nas bicas.
A falta d’água era uma constante a atormentar Saquarema. Água não havia também na igreja, um sério óbice, eis que uma das tarefas anuais dos devotos é cuidar da lavagem interna antes da Ladainha. No auge do desânimo, logo no seu ano de festeira, Menilda chorava e rezava fervorosamente, pedindo à Padroeira que fizesse o milagre de chegar água aos canos.
Chegar água aos canos e à igreja...
Ocorresse apenas isto, nunca ninguém poderia atribuir à Santa essa providência tipicamente humana. Mas o que houve foi espantoso. No momento da Ladainha, na noite da véspera da festa, a igreja estava apinhada de fiéis em orações. Até então nenhuma água. Mas eis que começou a brotar dos azulejos e do piso a água, o milagre acontecendo diante de todos!
Incrível! Mas a água não parava de minar dos azulejos e do piso, até quase alagá-lo. O povo presente passou a usar a água para lavar a igreja, sendo necessário até mesmo o uso de rodo a jogá-la pra fora. A igreja amanheceu limpa e brilhante, e a cidade sem água... É verdade! Não é ficção! Está registrado nos anais da igreja o milagre.

Viva N. S. de Nazareth!

Mas não parou aí a presença viva da Santa. No dia da festa choveu sem parar. Aproximava-se a hora da procissão e a chuva não cessava. Os devotos prepararam-se para enfrentá-la, quando, minutos antes de a Santa ser retirada em Andor para o lado de fora, a chuva milagrosamente parou, o céu aquietou-se e a procissão foi uma das mais lindas de todos os tempos. Terminada a procissão, tão logo a Santa adentrou a igreja caiu a chuva de novo, não mais parando.

Viva N. S. de Nazareth!

Outros registros de milagres... Retornando ao livreto e às histórias nele contidas, vamos agora transcrever os diversos milagres que nele estão catalogados, respeitando-se a fidelidade dos textos de seus autores já referidos (sic):

“– Quatro pescadores saíram para o alto-mar; de volta, o mar encapelado fez soçobrar a pequena canoa a 500 metros, mais ou menos, da praia. Dos náufragos, um, Manoel da Silveira Felix, desapareceu; da praia, os expectadores impossibilitados de levar qualquer auxílio, já contavam com o infeliz morto, quando o pescador Antônio José Tadim divisou, à meia-água, o corpo do infeliz; com uma tarrafa conseguiu pescá-lo vivo, depois de ter estado submerso mais de meia hora. Em sua simplicidade, o pescador contava que enquanto esteve em baixo d’água sonhava que Nossa Senhora de Nazareth o estava auxiliando em uma pescaria.
– Graciliano, carreiro do Coronel Cardoso Aguiar, conduzia um carro carregado, quando aconteceu cair do cabeçalho do carro. Chamando por N. S. de Nazareth, teve a felicidade de ver uma das rodas do carro carregado passar por cima de ambas as pernas sem que lhe causasse mal algum.
– Irene, de 3 anos, filha de Guilherme Gomes da Cunha e Silva, desapareceu de casa. Sua mãe, aflita, implorou à Nossa Senhora de Nazareth que lhe restituísse sua filha. Horas depois, foi a criança encontrada no fundo de um tanque, coberta de lodo, viva e sã.
– O Sr. Pedro Paulo de Macedo, residente no lugar de Sapeatiba, Município de São Pedro D’Aldeia, neste Estado, sofrendo de mal incurável, depois de ter recorrido a vários médicos, suplicou a N. S. de Nazareth que, se ficasse bom, sairia com uma lista angariando donativos para auxílio à festa da Virgem Mãe. Tendo recebido a graça, cumpriu a promessa, encontrando-se a lista, que consta com várias assinaturas, arquivada na sede da Irmandade de N. S. de Nazareth.
– A Ex.ma Sra. Dra. Maria de Carvalho, residente em Maricá, remeteu à Irmandade de N. S. de Nazareth, em 10 de março de 1909, o seguinte: – Que tendo sido acometida de um tumor maligno, sua cunhada, Da. Senhorinha de Noronha implorou a proteção da Virgem Senhora de Nazareth; que 40 dias depois se achava salva.
– João Augusto de Figueiredo vinha sofrendo de terrível ataque. Sua mãe implorou à N. S. de Nazareth que tirasse seu filho das garras deste sofrimento; em tão boa hora foi acolhida pela puríssima Virgem, que, por este motivo veio depositar aos seus pés o seu reconhecimento (Maricá, 08 de setembro de 1938).
– Maria de Aguiar Paes, residente nos subúrbios da cidade de Araruama, estando quase paralítica, procurou, em vão, todos os recursos. Já sem esperanças, lembrou-se de N. S. de Nazareth e implorou sua graça. Dentro de um mês estava radicalmente curada.
– Contam que, uma ocasião, quando um caçador, a cavalo, perseguia um veado, na ânsia de pegar a caça, ia-se despencando na ladeira do costão, quando gritou: – ‘Minha Nossa Senhora de Nazareth! Me valha!’. – O cavalo empinou, inclinando o corpo para o lado contrário, salvando o cavaleiro.
– Em 1915, uma grande seca assolou Saquarema, a ponto de secar a lagoa. O povo, em fervorosa penitência, saiu com a Virgem em procissão. Ao chegar frente ao local onde havia um pau fincado, desabou forte temporal, passando, então, o povo a chamar o referido esteio de ‘pau do milagre’, nome esse que persiste até hoje.
– Maria da Silva Torreiro, com 11 anos, residente na Travessa Lopes, nº 24, em Niterói, tendo engolido um prego, sua mãe, Dona Ernestina da Silva Torreiro, implorou à N. S. de Nazareth que salvasse sua filha. A menina, dias após, expeliu o prego, milagrosamente. Assim, em companhia de seus pais, veio ao Santuário de N. S. de Nazareth depositar o prego aos pés da Virgem e agradecer a graça alcançada.
– Edemur Oliveira da Silva, residente nos subúrbios da cidade de Saquarema, sofrendo de um mal incurável, chegou mesmo a ficar impossibilitado de andar. Procurou, em vão, todos os recursos médicos para seu restabelecimento. Quase sem esperanças, sua mãe, Dona Adelina de Oliveira, recorreu a N. S. de Nazareth, implorando essa graça. Nossa Senhora ouviu sua prece e hoje seu filho está radicalmente curado.
– Antônio Bernardino de Souza, residente na cidade de Maricá, vendo-se completamente restabelecido da enfermidade de que foi acometido em um pé, vem de coração agradecer a graça alcançada, por intermédio da Virgem de Nazareth.
– Máximo Pereira dos Santos, residente no lugar de Barreira, em Saquarema, estando sofrendo dos pulmões e já desenganado de seu médico, implorou à Virgem de Nazareth a sua proteção, a fim de que recuperasse a sua saúde e sem que fosse preciso recolher-se a um sanatório. Meses depois, achando-se completamente curado, veio agradecer à milagrosa Virgem a graça alcançada.
Todos estes fatos são do domínio público e são aqui transcritos para edificação das gerações vindouras, como testemunho unânime da geração atual.

Saquarema, 08 de setembro de 1978.

Provedor Arino de Sá Carvalho e Juíza Maria Ubiracina Alfradique da Silva.”

Teria sido um milagre?... 

Esta história é mais uma prova da ponte de fé entre o povo de São Gonçalo e a Santa Padroeira de Saquarema. Era o ano de 1950. Numa casa de família, em São Gonçalo, situada na Rua Coronel Rodrigues, nº 128, Centro, havia uma mulher em trabalho de parto, todos agitados em vista de mais uma vida chegando ao mundo de Deus em parto normal, geralmente feito por parteira.
Na cozinha, a empregada coloca no fogo um caldeirão de água, meio usual de aquecer o banho. Enquanto espera a água ferver, a empregada brinca de apertar a casca de uma laranja, assim espirrando o seu sumo. E lá está a menina Paulinha (Altair Paula de Souza e Silva), com três anos de idade, também a espremer o sumo no pijama que veste. E, sem que se soubesse até hoje o porquê, alguma fagulha faz incendiar o pijama da criança, provocando pânico na empregada, que, no espanto e sem pensar, resolve apagar o fogo com água... mas pega a água fervente do caldeirão e joga sobre a menina.
O resultado é trágico: a menina queimada ao extremo e desenganada pelos médicos que a atendem em hospital. Neste momento de desespero que seus pais suplicam a Nossa Senhora de Nazareth pela vida da filha. Suplicam, em fé extremada, Antônio Francisco de Souza e sua mulher Atalir Porto Lopes de Souza, com a promessa de todo ano comparecerem e ajudarem na festa da Santa, em Saquarema. A menina se salva, contrariando todas as expectativas desfavoráveis.
Hoje a menina está com sua família formada. Casou-se com um dos maiores ídolos de futebol de São Gonçalo, por nós gonçalenses carinhosamente chamado de “Careca”. O seu nome é Aloísio. Careca jogava no Nacional E. C., sendo o seu sogro Antônio seu fã incondicional e amante do futebol. Ligado na festa e na promessa, Antônio Francisco de Souza levou até Saquarema o time do Nacional para um jogo amistoso. Isso em 18 de março de 1962.
Um dos atletas, o jovem Cesar Bufet de Figueiredo, fazia naquela data dezessete anos de idade. E foi ao futebol para não mais voltar. Na lagoa ao banhar-se em local tão manso que as crianças fazem o mesmo sem perigo ele se afogou e morreu, tendo o seu corpo desaparecido no vaivém da água do mar entrando e saindo da lagoa. Antônio, desesperado, não arredou pé do lugar. E nada do corpo retornar, as pessoas garantindo que jamais voltaria, como em outros casos semelhantes. Mas Antônio não desanimou; ali ficou, ao pé da igreja, pedindo a Nossa Senhora de Nazareth que mandasse o mar devolver o corpo do jovem.
Três dias, e lá estava Antônio, rezando e implorando a volta do corpo sem vida. Ninguém mais admitia que tal fato acontecesse, até que, de repente, o corpo veio boiando e foi parar aos pés de Antônio. Ele olhou para o alto da colina e para a igreja e agradeceu a graça recebida, mais uma em sua vida, apesar da tristeza pela morte do jovem, episódio que consternou São Gonçalo, onde até hoje o fato é comentado. Os que lá estavam e assistiram ao milagre não têm dúvida de que a volta de Cesar foi por obra milagrosa da Santa. Cesar Bufet era muito querido por seus colegas do Colégio São Gonçalo. Era um rapaz diferente, tão diferente que até hoje continua lembrado. Ele e o milagre da sua volta aos amigos e à família. Está com a Santa vivendo no céu, isso ele está.

Teria sido assim o milagre?... 

Já contei parte dos motivos pelos quais o povo venera a Santa, os milagres que contam dela e a origem da formidável romaria que ainda hoje se impõe, como antes, na força da fé. Não sei se a Igreja Católica assume publicamente os milagres, mas isto não importa, o que vale é a alma do povo. E ela conta a seguinte, e admirável, e convincente história:
Como eu já aclarei, a Igreja de N. S. de Nazareth está plantada numa elevação única que existe em Saquarema, na beirada do mar bravio, mas submisso à Santa. É assim a imagem da igreja, lá no alto, em seu esplendor.
Além da versão sobre o cavaleiro e seu cavalo a perseguir um veado, como se registrou no livreto, eu mesmo já ouvi de muita gente outra versão do milagre, ou então, talvez, seja outro episódio ou até lenda. Não importa, porque, como eu já narrei, o que vale é a alma do povo. Afinal, são mais de trezentos anos de milagres a contar.
Dizem que há muitos e muitos anos caía sobre Saquarema violenta tempestade, o céu rasgado em relâmpagos, faíscas descendo e estourando na água e na terra. Nessa época, no alto da pedreira só havia uma pequena capela a homenagear a Padroeira da cidade. E a capela assistia a noite virando dia na claridade do raio que vinha depois do estrondo. A chuva caía em violenta enxurrada, como se as águas do mar tivessem subido aos céus para descer somente sobre Saquarema. E estouravam gigantes e incontroláveis ondas nas praias e nas pedras do morro da igreja em fúria indescritível.
Era tamanho o furor da tempestade que a terra tremia. O povo recolhera-se a abrigos seguros. Mas um homem e seu cavalo foram surpreendidos pelo feroz temporal. O pânico tomou a ambos, e o desespero somou-se ao pânico. A loucura do cavalo em disparada tomou as rédeas do cavaleiro perdido e o cavalo conduziu o cavaleiro ao perigo da morte.
O cavalo subiu a pedreira em disparada, alcançando a encosta da pedra sob as pancadas de um mar batendo como se possuído pelo dragão ou por trinta milhões de dragões. O cavalo empinava-se a tentar derrubar o cavaleiro, arremessando-o em direção ao mar que batia violentamente na pedra. Mas nesse momento de extremo perigo o cavaleiro tirou do peito o seu grito de fé: “Valei-me, N. S. de Nazareth! Valei-me!”.
A Santa atendeu! Cravou as patas traseiras do cavalo na pedra, firmando-as com suas mãos divinas. O mar amedrontou-se e recuou, enquanto o cavalo retomava a calma que parecia irremediavelmente perdida. O céu encolheu-se, as nuvens sumiram e surgiram muitas estrelas cintilantes. Ali mesmo o cavaleiro ajoelhou-se e agradeceu à Santa.
Por mais que digam que tudo é lenda, há na pedra a marca em formato de ferradura. Sim, lá está, perto da gruta, a inexplicável marca, facilmente compreendida como milagre por quem acredita. Azar dos que preferem a lenda... Porque é certo que não há limites para a ação milagrosa de N. S. de Nazareth. E dentro da gruta, cavada há muitos anos na pedra, está a imagem da Santa Milagrosa olhando o mar e recebendo devotos em romaria. E como aquele cavaleiro, salvo pela Santa em sua fé, milhões de pessoas já se ajoelharam a agradecer as graças recebidas; sim, milhões de milagres, como os que eu aqui contei. E milhões ainda serão vistos, até a eternidade, ajoelhados na gruta a venerar N. S. de Nazareth. Ou o farão na majestosa igreja no alto da colina, ou na pedra da marca da ferradura. Sim, da ferradura do cavalo igualmente salvo pelo milagre da Santa. Talvez aí esteja a explicação da escolha dos devotos de São Jorge a tradicionalmente paramentar a N. S. de Nazareth no seu mais festivo dia...
E agora conheçam a última crônica da cidade, lida por Cesar Ladeira na Rádio Nacional... Consta no já referido livreto uma transcrição que registro na sua íntegra:

“Transcrevemos a seguir a CRÔNICA DA CIDADE, escrita por Almeida Rego, e lida por Cesar Ladeira no dia 6 de setembro de 1969, momentos antes de falecer, no microfone famoso da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro: ‘ Ninguém sabe por quê, mas o maestro Chiquinho, um dos mais antigos artistas da Rádio Nacional, é devoto de Nossa Senhora de Nazareth, a padroeira da cidade presépio de Saquarema... a mais pitoresca entre todas as cidades do Estado do Rio de Janeiro.
Acontece que segunda-feira é o dia de Nossa Senhora de Nazareth, e há mais de uma semana o maestro não pensa em outra coisa, chegando mesmo a sair de casa sem colocar no bolso do paletó aquele lenço que daria para forrar uma cama de casal, chegando mesmo a esquecer suas glórias artísticas, onde aparecem entre tantas gravações... a gravação imortal do mambo CAÇULA, que figurou nas paradas de sucesso durante um ano inteiro.
Nessa época o maestro devoto tem uma atividade febril, visita todas as redações de jornal e todas as emissoras de rádio, para anunciar a já famosa festa da padroeira de Saquarema, que atrai milhares de turistas e romeiros de uma enorme região vizinha, inclusive do Estado da Guanabara.
A igrejinha da terra, plantada no topo da colina verdejante, regorgita (sic) de fiéis que vão até lá... fazer um pagar promessas, durante dois dias, os dias mais importantes da vida da cidadezinha encravada entre a lagoa e o mar.
Se você ainda não visitou Saquarema, aproveite a oportunidade e dê um pulo até lá... amanhã ou segunda-feira, para ver o que é uma grande festa popular, dentro de moldes antigos, cheia de pureza, de fé, de ingenuidade, que enchem a alma da gente de ternura. E a festa tem de tudo! Tem missa solene, tem banda de música, barraquinhas com prendas, leilão humorístico, procissão solene, alvorada musical, fogos de artifício e tem até exibição da famosa esquadrilha da fumaça.
A estas horas, enquanto apresentamos esta crônica, o maestro Chiquinho, o romeiro, o devoto de Nossa Senhora de Nazareth, deve estar passeando sua importância na pracinha da cidade, feliz e contente de haver contribuído para o maior brilho da festa, que é a sua maior preocupação nestes últimos anos.
Provavelmente o maestro só estará lá no domingo, porque segunda-feira é dia de trabalho... e o maestro nunca faltou ao trabalho um dia que fosse, nestes últimos trinta anos. Até segunda-feira, maestro, mas não deixe de pedir a Senhora de Nazareth, em nosso nome, muita paz, muita tranquilidade, e muita prosperidade para esse gigante menino que é o nosso Brasil.´”

O comportamento do maestro Chiquinho, retratado nesta crônica do saudoso Cesar Ladeira, bem demonstra que o maestro teria recebido alguma graça por parte da Santa. E, como ele, milhares de pessoas foram objeto de milagres que serviriam para engrossar a lista aqui apresentada. Mas quem quiser conhecer os milagres de N. S. de Nazareth, basta ir até a sua igreja, lá no alto da pedra, em Saquarema. E depois de rezar em seu louvor, basta descer à gruta da pedra e olhar o mar. Talvez – quem sabe? – o cavaleiro que foi salvo surja diante da pessoa e confirme, ele próprio, tudo o que aqui resumo...
Pois é certo que a Igreja da Santa não é só o seu templo erguido no morro de pedra, mas é também a igreja de todos os morros, de todos os mares e de todos os céus do mundo. E de todos os corações católicos que têm a Igreja dentro de si. 



Oração a Nossa Senhora de Nazareth

Ó Virgem imaculada, Mãe de Deus e Nossa Mãe, que vos dignastes abrir nesse Santuário, a fonte de Vossas graças mais singulares, eis-me prostrado aos pés de Vossa veneranda e milagrosa imagem. Suplico-vos, ó SENHORA DE NAZARETH, com a mais filial confiança, livrai-nos, a mim e aos que me são caros, aos saquaremenses e a todos os brasileiros, dos males que nos afligem, e concedei-nos os favores e as graças de que necessitamos.
Ó Mãe de Misericórdia, pela Sagrada Paixão de Vosso Divino Filho, pelas dores e angústias de Vosso Coração materno tende compaixão de mim, dos saquaremenses, dos brasileiros e não me deixeis sair deste Vosso Santuário sem que primeiro tenhais apresentado ao Vosso caro JESUS as minhas ardentes súplicas.
Abençoa-me, ó minha Mãe, espero em Vós e não esperarei em vão!

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